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“Fazíamos turnos para escavar”. Rapazes tailandeses descrevem dias na gruta

18 jul, 2018 - 19:15

Bebiam a água que escorria das paredes para sobreviver e faziam turnos a escavar, na tentativa de conseguir sair. Jovens tailandeses falam pela primeira vez em público.

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“Fazíamos turnos para escavar”. Rapazes tailandeses descrevem dias na gruta
“Fazíamos turnos para escavar”. Rapazes tailandeses descrevem dias na gruta

Os 13 jovens que estiveram presos durante 17 dias numa gruta na Tailândia falaram, esta quarta-feira, pela primeira vez em público.

Uma conferência de imprensa previamente preparada, para evitar questões que pusessem em causa o bem estar psicológico do grupo, que tem sido acompanhado por psiquiatras e psicólogos desde que foi resgatado. As mais de 100 perguntas enviadas por jornalistas de todo o mundo foram avaliadas previamente e depois feitas por um moderador, com os repórteres a assistir.

Os jovens tiveram alta do hospital esta quarta-feira, após uma mais de uma semana de exames físicos e psicológicos. “Percebemos que o seu estado psicológico era bastante bom, eles conseguiriam enfrentar o stress social que deveriam enfrentar quando voltassem a casa e estavam também fisicamente fortes o suficiente para poder voltar a uma vida normal. Não motivos para preocupação”, disse a psicóloga que tem acompanhado os rapazes, no início da conferência.

Uma pequena excursão que se transformou num pesadelo

O plano inicial era passar apenas uma hora na gruta de Tham Luang, na Tailândia, após o habitual treino de futebol em Chiang Rai, no sábado, dia 23 de junho. Os “Wild Boars” não levaram comida para a curta excursão com o treinador, porque já tinham comido antes de entrar na gruta.

Mas quando quiseram regressar, encontraram a saída inundada. Ekapol Chanthawong, o treinador que levou as crianças para a gruta, diz que decidiram continuar pelo caminho que tinham começado, na esperança de que houvesse outra saída, no outro lado do túnel. “Em menos de uma hora a água começou a subir muito rápido e não tivemos alternativa se não continuar a fugir”, explica o treinador.

À medida que o nível da água subia, os rapazes perguntavam se estavam perdidos. Mas Chanthawong sabia que não, uma vez que havia apenas uma direção na gruta.

Horas depois, o grupo encontrou um ponto elevado e decidiu ficar a dormir. Antes de adormecerem, rezaram. Mas tinham a esperança que, no dia seguinte, o nível da água já tivesse baixado.

No dia seguinte, os jovens perceberam que o problema era mais grave do que inicialmente pensaram. Sem nada para comerem, conseguiram encontrar água limpa a escorrer de uma rocha. Bebiam água para se sentirem saciados, conta o grupo.

As horas transformaram-se em dias. Sem encontrarem qualquer saída, decidiram começar a escavar as paredes. “Pelo menos estávamos a fazer alguma coisa”, explica o treinador. “Não queríamos limitar-nos a esperar que as autoridades nos encontrassem”.

Iam fazendo turnos e, com a ajuda de pedras, conseguiram escavar três a quatro metros. Mas os esforços não produziram os resultados esperados.

10 dias depois de entrarem na gruta, o grupo estava cansado e fraco. O mais novo do grupo, com 11 anos, lembra que se sentia a desmaiar e fazia um esforço por não pensar em comida. Mas a imagem do arroz frito de que tanto gosta não lhe saía da cabeça.

Os jovens estavam com medo de não chegar a conseguir voltar a casa. Sentiam-se também culpados, porque a maioria não avisou os pais que iriam para a gruta. “Tinha muito medo de não poder voltar para casa e também que a minha mãe ralhasse comigo”, diz um dos mais novos.

Chegada dos mergulhadores “foi um momento milagroso”

O momento em que os jovens tailandeses são encontrados, após 10 dias numa gruta
O momento em que os jovens tailandeses são encontrados, após 10 dias numa gruta

No dia 2 de julho, o grupo ouviu um som ao longe. “Hello!” - era um dos mergulhadores britânicos, que tinha finalmente conseguido encontrar o grupo, após vários dias de tentativas.

Estranharam ouvir perguntas naquela língua estranha - não sabiam que o seu resgate já tinha as atenções de todo o mundo. Felizmente, um dos rapazes sabia falar inglês, e conseguiu responder às perguntas. Um momento “milagroso”, numa altura em que já não conseguiam distinguir os dias e tinham que fazer um “grande esforço” por responder ao que lhes perguntavam.

Jovens pedem desculpa aos pais

No fim da aventura, muita coisa mudou para os rapazes. Quatro querem ser mergulhadores, além de jogadores de futebol. Não querem voltar à gruta - apenas o treinador se sente capaz de voltar, mas desta vez com guia.

Todos se sentem culpados e arrependidos por não terem avisado os pais que iriam para a gruta. Rapidamente a palavra “desculpem” se torna a mais repetida da conferência de imprensa. Dizem também que vão dar “mais valor à vida” a partir de agora.

Aproveitam ainda para homenagear o mergulhador que morreu durante a operação de resgate. "Todos ficaram muito tristes com a notícia e sentirem-se culpados pela sua morte", revelou Chanthawong.

“Queríamos muito que ele soubesse que lhe agradecemos do fundo do coração”, disse um dos jovens.

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