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Diretora da Amnistia Internacional em Bruxelas. "Ficámos muito preocupados com a ideia de criar centros controlados"

05 jul, 2018 - 13:40 • Vasco Gandra

Em entrevista à Renascença, Iverna McGowan alerta para "o grande perigo" de esses centros serem usados como "centros de detenção" de pessoas que "não são criminosas".

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As dúvidas e a preocupação crescem em relação aos resultados da última cimeira europeia onde os 28 Estados-membros chegaram a acordo sobre um plano para gerir as migrações, que é duramente criticado pela Amnistia Internacional (AI).

A União Europeia prevê a criação de centros controlados nos Estados-membros onde se poderá fazer a distinção entre os migrantes irregulares, que serão devolvidos aos países de origem, e os que necessitam de proteção internacional e que podem requerer asilo no bloco comunitário.

Em entrevista à Renascença, Iverna McGowan, diretora da representação da AI em Bruxelas, alerta para os perigos que estes centros comportam e opõe-se à sua existência.

"Ficámos muito preocupados com a ideia de criar centros controlados. Para nós, há o grande perigo de que sejam de facto centros de detenção. As pessoas que procuram segurança, uma vida melhor ou um refúgio na Europa não são criminosos. A Amnistia Internacional opõe-se firmemente a que estas pessoas sejam detidas."

A questão do tempo que as pessoas poderão vir a passar naqueles centros é igualmente motivo de preocupação para McGowan, até porque que entre os migrantes costuma haver muitos menores e famílias.

Na cimeira europeia, os líderes dos 28 também chegaram a um acordo para se estudar "rapidamente o conceito de plataformas de desembarque regionais, em estreita cooperação com os países terceiros". A ideia é criar estas infraestruturas em países do Norte de África para onde serão levados os migrantes resgatados no Mediterrâneo e onde as suas situações serão analisadas "no pleno respeito pelo direito internacional".

Face a este plano, a representante da AI alerta para o facto de países como a Líbia não terem portos seguros para proceder a tais operações, uma denúncia que é ecoada pelos Médicos Sem Fronteiras. Acresce a isto a facto de nenhum país do continente africano ter manifestado até agora intenção de acolher estas plataformas de desembarque.

A directora da AI em Bruxelas critica ainda a falta de liderança no Conselho Europeu para aprovar um novo sistema comum de asilo que seja eficaz e justo.

Outras organizações não-governamentais (ONG) estão igualmente desapontadas com os resultados alcançados no encontro de chefes de Estado e de Governo dos 28 na semana passada. A organização Save the Children, por exemplo, fala numa "oportunidade perdida" e critica a criação de "centros controlados" e as "plataformas de desembarque" que suscitam "grave preocupação", sobretudo em relação à "detenção de crianças e famílias".

As conclusões da última cimeira foram discutidas esta semana na sessão plenária do Parlamento Europeu, em Estrasburgo. Muitos eurodeputados consideraram os resultados insatisfatórios e lamentaram a falta de acordos concretos sobre como a UE deve gerir os fluxos migratórios e reformar o atual mecanismo de asilo.

Comentários
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  • Anónimo
    24 set, 2018 16:18
    O "anónimo" de 11 de Julho, tu devias ser daqueles que queria receber a Le Pen em Portugal. Pois eu digo-te: recebe-a em tua casa. Graças à livre circulação de pessoas dentro da União Europa, podes acolher a tua amiga em tua casa! E se eu tivesse o património imobiliário da família Le Pen podes crer que recebia refugiados em minha casa. Escumalha xenófoba como tu é que não.
  • Anonimo
    11 jul, 2018 15:39
    Sim, vamos receber tudo e todos incluindo os que vêm apelar a ódios e revoltas. receba-os você em sua casa!
  • Anónimo
    09 jul, 2018 14:50
    Temos é que nos proteger da escumalha xenófoba. Eu trocava todos os refugiados do mundo pela escumalha xenófoba.
  • fanã
    05 jul, 2018 aveiro 19:05
    Mais preocupado fico eu se nenhum tipo de controle for posto em pratica. O direito a protecção é valido nos dois casos !........... Sem ser de maneira nenhuma xenofóbico, também não sou ingénuo !.......... A nossa segurança deve ser respeitada !

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