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Mulheres sauditas ao volante. “Nunca imaginei”

24 jun, 2018 - 13:49

Dezenas de mulheres aproveitaram a nova lei desde o primeiro minuto.

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Mulheres sauditas já podem conduzir, mas continuam reféns da tutela masculina
Mulheres sauditas já podem conduzir, mas continuam reféns da tutela masculina

Desde as primeiras horas deste domingo que as mulheres da Arábia Saudita podem saltar para o volante e conduzir pelas estradas do reino.

“Tenho arrepios. Nunca imaginei em toda a minha vida que conduziria nesta avenida", afirma à agência France Press a apresentadora de televisão Samar Almogren, mãe de três filhos, enquanto descia a King Fahd Avenue, a principal artéria da capital saudita, ao volante do seu automóvel. Passava poucos minutos depois da meia-noite.

A AFP conta que dezenas de mulheres aproveitaram a nova lei para circularem ao volante das suas viaturas logo que começou o dia – aquele em que foi finalmente levantada uma proibição que durava há décadas e que era o sinal mais visível da repressão sobre as sauditas.

A reforma histórica neste país ultraconservador foi levada a cabo pelo príncipe herdeiro, Mohammad bin Salman.

A questão de saber se a sociedade saudita estava pronta para ter mulheres ao volante de viaturas foi matéria de um longo debate no reino, que nem sempre decorreu nos moldes esperados.

Em 2013, um conhecido clérigo saudita, o xeque Saleh al-Louhaidan, chegou a garantir que a condução de automóveis poderia danificar os ovários das mulheres e deformar a sua pelve, o que levaria a malformações dos recém-nascidos.

A resistência ao levantamento da proibição ainda é forte em alguns setores da sociedade saudita. A AFP conta que músicas com títulos como "Do not drive" tornaram-se extremamente populares nas redes sociais nas últimas semanas.

Anunciada em setembro de 2017, a medida promovida pelo príncipe herdeiro integra um amplo plano de modernização do país, pondo fim a uma proibição que se tornou símbolo do da posição secundária atribuída às mulheres pelo regime.

A medida está a ser encarada por muitos como o início de uma nova era numa sociedade que vive sob um regime islâmico rigoroso.

"É um passo importante e uma etapa essencial para a mobilidade das mulheres", resume Hana al Jamri, autora de um livro que será publicado em breve sobre as mulheres no jornalismo na Arábia Saudita.

A escritora lembra que as mulheres sauditas "vivem num sistema patriarcal” e que a possibilidade de conduzir automóveis vai ajudá-las a desafiar as rígidas normas sociais do reino.

Segundo estimativas da empresa de consultadoria PricewaterhouseCoopers, cerca de três milhões de mulheres sauditas devem adquirir a carta de condução e começar a dirigir até 2020. Não podem, contudo, comprar carro.

Apesar da abertura das escolas de condução, muitas mulheres reclamam da falta de instrutores e do alto custo das aulas. As autoridades emitiram este mês as primeiras licenças de condução para as mulheres, havendo muitas que simplesmente trocaram a carta de condução estrangeira por uma licença saudita.

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