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“O Meu Coração Só Tem Uma Cor”: Rir é ouro sobre azul... e branco

22 jun, 2018 - 14:00

Chega esta sexta-feira ao mercado o novo livro da humorista e portista Joana Marques. O livro graceja sobre os momentos-chave do clube, tem prefácio de Pinto da Costa e ilustrações de Pedro Vieira.

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"Eu acho que o futebol português está muito necessitado de inteligência, de humor, de bom senso.” A reflexão é de Rui Couceiro, para quem o futebol é um jogo que deve ser estrategicamente pensado, mas também ardilosamente improvisado, tal e qual uma boa piada. Foi nessa linha de pensamento que o editor desafiou Joana Marques, “portista apaixonada”, a rematar gracejos.

Foram mais do que quatro linhas as escritas por Joana Marques no livro “O Meu Coração Só Tem uma Cor”, com 92 textos sobre os capítulos mais emblemáticos da história do FC Porto. Neste desafio, chegar ao golo significa fazer o clube rir de si próprio. "Seja qual for o clube pelo qual a pessoa torce, o humor deve fazer parte. Caso contrário, enlouquece-se quando as coisas correm mal. Nenhuma equipa ganha sempre. Nesses momentos, é bom manter-se o sentido de humor e conseguir ser autocrítico", explica a humorista, num momento em que o clube atravessa uma fase mais próspera, após quatro anos de domínio benfiquista.

A obra surge depois de um campeonato feliz e de 92 minutos confortáveis, mas a autora clarifica, à Renascença, que aceitaria sempre ir a jogo pelo azul e branco: "Se a ideia tivesse surgido noutra altura, eu publicaria na mesma e acredito que os portistas gostariam de o ler, independentemente disso, porque relembra os grandes momentos, as grandes finais que o FC Porto jogou e que ganhou, os grandes jogadores que passaram pelo FCP. Isso ninguém nos tira, mesmo depois dos quatro anos em que estivemos sem ganhar.”

Nostalgia azul e branca

“O Meu Coração Só Tem uma Cor” é um livro sobre lealdade e paixão, em que uma defesa passa várias vezes a atacante, mas nunca fica no banco na hora de intervir. É, também, um livro sobre a glória do passado e as memórias de uma adepta que cresceu a ver a bola rolar à moda do Porto. "O lado da memória, da nostalgia é sempre algo de que as pessoas gostam, porque se lembram delas mesmas a comemorar os golos, a assistir a determinados jogos", conta Joana Marques.

O coração da autora “só tem uma cor” desde os 7 anos, altura em que se apaixonou por um clube que não jogava à porta de casa: “Tenho recordações mais nítidas desde os 11 ou 12, quando comecei a perceber melhor. Mas sempre me identifiquei muito com o clube, apesar de ser de Lisboa. Na altura, ainda era menos comum do que o que é agora. Lembro-me de que só eu e outra colega na escola éramos portistas. Por isso, também se foi construindo em mim aquele espírito de ser do contra. Estar do lado oposto da maioria dava-me algum gozo, sobretudo nos anos 90 e inícios dos anos 2000, em que o FC Porto ganhou tudo o que havia para ganhar, incluindo, mais tarde, a Liga dos Campeões.”

Abrir o álbum de fotografias que são ouro sobre azul é, inevitavelmente, resgatar essa vitória, em 2004. “Se tiver de escolher uma, a vitória na Liga dos Campeões, com o José Mourinho. Lembro-me muito bem. Estava no último ano da escola secundária. Lembro-me de que não dormi a noite toda. Estava a ver em Lisboa, longe daquela confusão toda, não tenho um relato tão emocionante como as pessoas que estiveram lá no estádio, mas tenho uma memória muito viva disso. Nem parece que já foi há tanto tempo. Lembro-me de estar a ver aquilo tudo, de fazer direta e de ver chegar os jogadores apenas de manhã. Foi uma coisa marcante e que não se imaginava que fosse possível", recorda a portista alfacinha.

Joana Marques foi acompanhando o clube tripeiro de plantel em plantel e vários capítulos do livro que agora lança são dedicados a protagonistas exímios no espetáculo do futebol. Mas, na hora de eleger o onze ideal de todos os tempos, há dúvidas dignas de se convocar o vídeo-árbitro.

"Incluiria muitos dos que são referidos neste livro. Alguns merecem um capítulo só deles. Portanto, na baliza, obviamente, Vítor Baía. Essa parte é fácil. O Deco faria parte também. O Falcão, por exemplo. Também tenho um capítulo dedicado ao Costinha, porque marcou aquele golo mítico em Manchester. Depois, falo de defesas míticos que tivemos. É difícil escolher só qautro. Falo do Jorge Costa, do João Pinto... Temos sempre tendência a recordar esses, que são os clássicos, digamos assim, embora, num passado recente, também tivemos defesas ótimos. Nada me diz que um Alex Telles não pudesse entrar nesse leque, mas acho que a nostalgia nos leva sempre a buscar mais os antigos, dos anos 90, e que, pelo menos a mim, me lembram esses primeiros tempos em que descobri aquele mundo. Por exemplo, o Kelvin talvez não faria outro golo daqueles, mas fez aquele e esse ficará na história. Mas tenho medo de me esquecer de algum ou de fazer um onze sem sentido nenhum que perderia todos os jogos", enumera, entre pausas.

Perder ou ganhar é desporto? Só se for a rir

"Eu acho que os portugueses não são só treinadores de bancada, também são humoristas de bancada, ou de Internet”, atira Joana Marques. Por isso, segundo a autora, este não é só um livro para os adeptos, mas para todos aqueles que não se importam de apontar o seu próprio calcanhar de Aquiles.

"Os outros clubes entram todos no livro, obviamente, porque são referidos muitos encontros com o Benfica, com o Sporting, com o Boavista, etc. Atualmente, temos duas facções: os que levam isto muito a sério e que transformam isto num fenómeno quase desagradável, porque há insultos entre representantes deste e daquele clube, muitas insinuações, muitos programas em que as pessoas discutem futebol como se fosse a coisa mais séria do mundo - e esse lado, por vezes, fala mais alto -, e os que levam isto de outra forma, com projetos de humor ligados ao futebol, por exemplo", reflete a autora reconhecida pelos momentos de humor nas galas Dragões de Ouro.

Também para o editor Rui Couceiro a maior regra de arbitragem do desporto é o "fair play" e, nesse sentido, aplaude a sátira combativa de Joana Marques. “Um dos capítulos mais divertidos é uma parte dedicada a alguns fracassos, alguns 'flops'. Refiro-me concretamente àquelas contratações falhadas de que todos adeptos certamente se lembram", revela Couceiro.

“Este é um livro que nos permite olhar para o futebol de uma maneira muito diferente daquela que, infelizmente, nós todos os dias vemos nas páginas dos jornais. Se o livro da Joana Marques conseguir contribuir para uma mudança de ânimo, nem que seja circunstancialmente, nem que seja apenas junto dos adeptos do Futebol Clube do Porto ou junto de quem o ler, creio que já teremos feito algo por este futebol português que está a passar por momentos que nos envergonham tanto", remata.

Nem Pinto da Costa foi mais papista do que o Papa

O presidente do clube, Jorge Nuno Pinto da Costa, escreveu o prefácio de “O Meu Coração Só Tem uma Cor”, elogiou a iniciativa de Joana Marques e surgiu em caricatura, vestido com um hábito de Papa.

"Nós ficámos muito felizes por o presidente do Futebol Clube do Porto ter reconhecido neste livro uma obra de qualidade. Ele próprio elogia o talento da Joana Marques no prefácio e creio que é também uma demonstração de grande 'fair play' por parte do presidente, porque ele próprio aparece caricaturado no livro. Quando digo caricaturado, não me refiro apenas ao que a Joana Marques escreveu, mas também às ilustrações que o livro contém - uma espécie de 'cartoons' feitos pelo Pedro Vieira, que o representou com o hábito de Papa. Eu diria que Jorge Nuno Pinto da Costa é a grande figura da história do Futebol Clube do Porto. Isso parece-me mais ou menos consensual e creio que a maioria dos adeptos portistas conseguirá reconhecer isso", elogia Couceiro.

O livro chega às bancas esta sexta-feira, desafiando todos aqueles que não querem ficar fora de jogo no que toca à arte de comemorar triunfos e de rir sobre as próprias derrotas.

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