29 mai, 2018 - 16:07 • Ângela Roque
Um estudo divulgado esta terça-feira pelo Pew Research Center, com sede nos Estados Unidos, revela um afastamento cada vez maior entre os que na Europa acreditam em Deus e se identificam com uma religião e a prática religiosa, embora mostre que a identidade cristã continua a ser importante para a maioria, mesmo para aqueles que não vão muito à Igreja.
Dos inquiridos no estudo, 91% são batizados e 81% foram educados na fé cristã, mas apenas 71% se afirmam cristãos. Desses, só 22 % mantêm uma prática religiosa regular. Alguns dizem que se “distanciaram gradualmente da religião”, outros que “deixaram de acreditar nos ensinamentos religiosos”, e houve quem se tenha afastado devido a “escândalos ou posições adotadas pela Igreja em relação a temas sociais”.
Por países, a percentagem dos que se dizem cristãos é elevada e o primeiro lugar do pódio vai para Portugal, com 83%, seguido de Itália, Irlanda e Áustria, com 80% cada, 77% na Finlândia, 75% na Suíça, 73% no Reino Unido e 71% na Alemanha.
Em Espanha desce para os 66%, 65% na Dinamarca e 64% em França, 55% na Bélgica, 52% na Suécia, 51% na Noruega, e 41 % na Holanda. Em todos houve um aumento dos que se dizem “não praticantes” e “sem religião”.
Em Portugal, onde a Igreja católica é maioritária, há 35% de “cristãos que vão à Igreja”, 48% de “não praticantes” e 15% “sem religião”. A Holanda é o país com menos cristãos praticantes (apenas 15% vão à Igreja) e com mais pessoas “sem religião” (48%). Na Finlândia, apesar da percentagem elevada dos que se dizem cristãos, apenas 9% vão com regularidade à Igreja, havendo 68% de "não praticantes".
Como é o “olhar” cristão sobre a atualidade?
O inquérito do Pew Research Center, um dos centros de estudos avançados de maior prestígio mundial, também pretende mostrar como ter e não ter fé condiciona e molda a leitura que se faz da realidade e dos acontecimentos, ao analisar os pontos de vista dos inquiridos sobre Deus, os imigrantes e os muçulmanos, bem como o papel da religião na sociedade.
De uma forma geral, a identidade cristã da Europa continua a ser considerada importante na maioria dos países, onde muitos inquiridos continuam a educar os filhos como cristãos (70% da população geral, 97% dos “cristãos praticantes” e até 87% dos “não praticantes” garantem que sim). Mas há diferenças que se vão acentuando entre os que, tendo fé, a vivem de maneira diferente: 64% dos cristãos que vão com frequência à Igreja acreditam na descrição bíblica de Deus, mas os “não praticantes” tendem a acreditar num “poder superior ou força espiritual” (51%).
Especialmente valorizado parece ser o trabalho social - 62% do total de inquiridos, e 48% dos “sem religião”, reconhecem que a Igreja e as organizações religiosas desempenham um papel importante na ajuda aos mais necessitados. Uma parte significativa dos que responderam ao inquérito (36% da população em geral, 58% de “cristãos praticantes” e 14% dos que não tem religião) considera que os governos deviam apoiar os valores e crenças religiosas.
Em relação aos temas ditos “fraturantes”, 81% dos inquiridos apoiam o aborto legal, que é admitido por 52% dos que se dizem cristãos “praticantes” e por 85% dos “não praticantes” - todos concordam, na mesma percentagem, com o “casamento entre homossexuais”, tal como 58% dos cristãos que vão à Igreja.
A imigração e as minorias religiosas são temas que, no geral, preocupam os europeus e este estudo mostra que têm reservas quanto à integração dos que chegam de fora. Para 38% a imigração devia ser reduzida (a percentagem sobe para 40% entre os “cristãos praticantes” e desce para 28% entre os “sem religião). Para 42%, o islamismo é incompatível com os valores e a cultura dos países ocidentais. 48% dos cristãos "praticantes" pensam da mesma forma, mas entre os “sem religião” a percentagem é de 32%.
Este estudo do Pew Research Center foi realizado em 15 países europeus (Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Irlanda, Itália, Holanda, Noruega, Portugal, Espanha, Suécia, Suíça e Reino Unido), com base em 24 mil entrevistas telefónicas a adultos, realizadas entre abril e agosto de 2017.