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Simulador de sismos português trabalha com dados desatualizados

24 mai, 2018 - 16:45 • João Cunha

Trinta e duas mil pessoas ficariam desalojadas no Algarve se ocorresse hoje um sismo como o de 1755. Mas o Simulador de Risco Sísmico para o Algarve baseia-se em dados de 2001. As autoridades podem estar a trabalhar em ferramenta obsoleta, por ser pouco realista.

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O Simulador de Risco Sísmico para o Algarve está desatualizado, porque inclui os dados relativos ao Censos 2001. Mas mesmo assim, esta ferramenta, “construída em 2007, permite estimar e visualizar as previsões de danos, de forma a melhor e mais eficazmente gerir uma emergência, decorrente de um tremor de terra – ao qual pode estar associado, se tiver epicentro no mar, um tsunami.

Representa assim uma ferramenta útil para apoio à prevenção e ao planeamento de intervenção, que já ajudou a preparar um plano especial de emergência detalhado para estas possíveis situações.

O que aconteceria se um sismo como o de 1755, com epicentro próximo do estreito de Gorringe e magnitude 8,7 na escala de Richter, fosse hoje, 24 de maio, pelas 15h00. O simulador estima que afetaria 1,5 milhões de pessoas.

Um número que seria substancialmente maior se, porventura, o sismo ocorresse no verão, época em que o Algarve triplica, pelo menos, a sua população.

Trinta e duas mil pessoas ficariam desalojadas e seria difícil conseguirem água: não porque a rede de abastecimento ficasse totalmente inutilizada, mas porque praticamente toda a região algarvia ficaria sem eletricidade. E sem energia, não é possível transportar água pela rede existente.

Seria também difícil prestar cuidados de saúde aos feridos e afetados, já que a maioria das unidades de saúde da região seriam gravemente afetadas.

O Hospital de Faro, a principal unidade de saúde da região e a que mais valências dispõe, ficaria inutilizada, devido aos danos estruturais no edifício.

A ajuda médica de emergência teria de vir de fora do distrito, e eventualmente por via aérea, já que também as principais vias de comunicação ficariam afetadas ao ponto de não permitirem a circulação rodoferroviária.

Se esse sismo, idêntico ao de 1755, tivesse epicentro no mar, poderia formar um tsunami que afetaria toda a costa sul do país.

Ocorrendo em maio, 520 mil pessoas sofreriam as consequências da subida das águas, que inundariam extensas zonas de Lagos, Portimão, Albufeira e Faro, e 33 mil edifícios.

Quem trabalha com este simulador admite que não deixa de ser uma ferramenta fundamental de trabalho, de ajuda ao planeamento e prevenção. Mas confessa que ainda seria mais eficaz se dele fizessem parte dados mais atualizados, como o do Censos 2011.

A titulo de exemplo, e para que se perceba a discrepância com a realidade, o simulador não mostra qualquer unidade hoteleira na cidade de Faro, que pudesse ser afetada por um destes fenómenos naturais.

Em Faro existem, hoje em dia, pelo menos 75 unidades de alojamento.

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