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CETEMARES

Pão de algas para comer e um gin de algas para acompanhar

22 mai, 2018 - 07:04 • Manuela Pires

No CETEMARES, em Peniche, as algas são rainhas. Servem para criar comida fora do comum, mas também para aumentar o tempo de vida útil de alguns alimentos e até para combater tumores e a doença de Parkinson.

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Dá para fazer uma refeição completa com os produtos desenvolvidos no CETEMARES. Para a entrada pão de algas, depois hambúrguer de cavala ou salmão temperado com azeite com algas. Para sobremesa um gelado kéfir com a alga Spirulina e, para terminar, um gin também com algas.

Todos estes produtos foram desenvolvidos em Peniche, no CETEMARES, o centro de investigação do conhecimento marítimo do Instituto Politécnico de Leiria.

Aqui, as algas são o principal foco de investigação. O objetivo é trabalhar diretamente com as empresas para desenvolver produtos e colocá-los no mercado. A coordenadora do centro, Maria Manuel Gil, mostra com orgulho os alimentos que já estão no mercado e que saíram daqui para trazerem benefícios aos consumidores. “No caso do pão", explica, "as algas reduzem o teor de sal. As algas têm perfis nutricionais diferentes, são ricas em minerais, em iodo e, em função da espécie, algumas têm proteínas, vitaminas e ácido fólico.”

Do CETEMARES não saem só produtos para consumo. Os recursos marinhos aqui explorados também ajudam, por exemplo, a aumentar o tempo de vida dos alimentos. É o caso de um revestimento de algas que é usado nas maçãs fatiadas do McDonald's, para que não oxidem, ou ainda uma película usada nas embalagens de frango, um projeto desenvolvido em parceria com a Lusiaves.

"Aqui é através da embalagem que se aumenta a vida útil dos alimentos", explica Maria Manuel Gil. "Foi desenvolvida uma película que tem incoroporados extratos de algas que libertam constituintes que permitem prolongar o tempo de vida útil do frango que é guardado naquela embalagem."

No CETEMARES trabalham todos os dias cerca de 60 pessoas. São investigadores de carreira, bolseiros pós-doutoramento, estudantes de doutoramento e de mestrado e bolseiros de investigação que estão alocados a diversos projetos.

João Reis está a fazer a tese de mestrado sobre os camarões ornamentais para perceber se é possível produzir estes camarões em aquacultura, porque é um produto muito caro e os que existem nas lojas de animais são todos retirados do mar. À Renascença, na sala dos crustáceos onde estão os aquários com os camarões, mostra as larvas que nasceram na noite anterior; são minúsculas, mas já conseguiu contar pelo menos 350.

No piso térreo do CETEMARES há muitas salas com aquários, uns têm peixes, outros têm medusas, há ainda ouriços do mar e pepinos do mar.

É aqui que estão os animais do projecto NewCumber de Pedro Félix, financiado pelo MARE 2020. “A ideia é desenvolver uma aquacultura que seja sustentável para as nossas espécies", explica. "Na Ásia, este cultivo está muito desenvolvido, mas na Europa não existe para fins comerciais. Os pepinos do mar podem juntar-se a outras espécies e têm o potencial de melhorar a condição dos tanques de aquacultura."

No sudeste asiático, os pepinos do mar, parentes das estrelas do mar e dos ouriços, são usados na alimentação. É um produto de luxo, que chega a custar 200 euros ao quilo.

Algas venenosas, a nova arma contra o cancro?

Do CETEMARES, integrado no MARE (Centro de Ciências do Mar e do Ambiente), há recursos marinhos que saem diretamente para as prateleiras dos supermercados, como é o caso do pão de algas, do mel em pó, das bolachas ou azeite de algas, do gelo com algas e dos revestimentos que aumentam o tempo de vida útil do pescado. Mas aqui, as algas também podem ser uma arma contra o cancro. Um dos projetos em curso dedica-se à descoberta de novos fármacos antitumorais e de outros para combater o avanço do Parkinson.

É também aqui que Marco Lemos está a desenvolver o projeto AMÁLIA. O nome não podia soar mais português mas, na verdade, serve para transmitir a ideia de que se pode transformar algas em produtos inovadores para o mercado, gerando valor para a economia do mar. Pelo caminho, tentam encontrar-se soluções para algumas doenças.

Assim explica o investigador sobre um projeto que passa por transformar algas marinhas invasoras, que geram problemas ecológicos e económicos em todo o mundo e que representam uma ameaça para o ambiente, numa oportunidade de negócio.

"Estas algas produzem compostos que eliminam outras algas, uma espécie de veneno. Muitos dos fármacos antitumorais e contra o Parkinson podem vir de venenos, podemos pegar nas substâncias produzidas por estas algas invasoras e aplicar em novos produtos."

Iniciado há um ano, o projeto europeu, liderado pelo Politécnico de Leiria e que envolve instituições de Espanha, da Áustria e da Holanda, já permitiu chegar a algumas conclusões. Em 12 meses, os investigadores descobriram não só as potencialidades das algas venenosas para combater tumores e a doença de Parkinson, mas também para proteger aquaculturas.

"Estas algas têm a capacidade de diminuir a carga microbiana de bactérias e de fundos e proteger o próprio organismo dos camarões", explica Marco Lemos. "Assim conseguimos que estes camarões fiquem mais resistentes a estas patologias que leva ma tanto declínio em aquaculturas."

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