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Voleibol

Hugo Silva abre o livro e a história começa com umas sapatilhas amarelo fluorescente

23 mai, 2018 - 12:05

Campeão pelo Sporting, o selecionador nacional de voleibol revê época de sonho no clube, revisita as polémicas e abre a janela sobre o futuro.

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A época de sonho de Hugo Silva no Sporting
A época de sonho de Hugo Silva no Sporting

Para ser grande, Hugo Silva é inteiro e põe tudo o que é no mínimo que faz. Não gosta de sorrisos no treino, ataca polémicas, diz-se um dos duros, dá o máximo e exige o máximo. Fala de si sem falsas modéstias, dos outros sem paliativos e preza competência.

Neste contexto que define personalidade não deixa de ser estranho que a história comece com umas sapatilhas amarelo fluorescente. "A responsável pela minha ida para o voleibol foi a minha irmã. Eu fiquei fascinado com as sapatilhas dela. Eram umas sapatilhas de borracha virgem, muito baixinhas. Recordo-me da cor, eram amarelo fluorescente. Todas branquinhas e tinham o símbolo da Asics amarelo fluorescente. Eu fiquei fascinado com as sapatilhas. Foram as sapatilhas da minha irmã que me influenciaram", conta o treinador campeão nacional de voleibol pelo Sporting e selecionador nacional, em entrevista à Renascença.

Chegou a ser convidado por um antigo diretor do FC Porto para fazer um teste no futebol, mas não chegou a aparecer, porque o seu interesse, desde cedo, é o vólei e o brilho fluorescente das sapatilhas ajudou. Com uma carreira discreta como jogador, chegou a subir com o Gueifães, Hugo Silva registou o seu nome como treinador.

Primeiro no clube maiato, onde cresceu, e mais tarde no Sporting de Espinho onde explodiu. Foi campeão nacional em 2012 e está ligado à seleção portuguesa desde 2005. Regressou à atividade de clubes, em 2017, para liderar o Sporting. "Só mesmo um desafio tão grande me fez aceitar o convite, enfrentando os problemas que muitas pessoas colocavam pela minha presença num clube", começa por dizer.

A aventura arrancou e Hugo Silva assume que nunca pensou que o destino fosse o título.

Hugo Silva abre o livro. Das sapatilhas fluorescentes a selecionador de voleibol
Hugo Silva abre o livro. Das sapatilhas fluorescentes a selecionador de voleibol

Do esboço à obra feita

Desde 2005 ligado à Federação Portuguesa de Voleibol, Hugo Silva suspendeu as funções de selecionador para abraçar o projeto do Sporting. Ou melhor, para pegar no esboço e transformá-lo num projeto. Foi necessário, recorda, "habituar os adeptos a não gritarem golos, mas pontos".

"Íamos construir tudo do zero. Equipa nova, dirigentes novos, foi tudo do zero. Tive bastantes problemas no início, mas o Sporting valoriza as restantes modalidades de forma diferente. Quase que estávamos lado a lado com o futebol e termos um presidente constantemente perto de nós mostra a importância que nos dão", explica o treinador.

Por questões logísticas - a maior parte dos atletas tem sede no Norte de Portugal - e porque a construção do plantel foi feita em tempo recorde e não havia grande margem para tratar da deslocalização de todos, a equipa treinou em Fiães, a 300 km do Pavilhão João Rocha, em Alvalade. Obstáculos ultrapassados com três ingredientes fundamentais.

A mistura explosiva: paixão, loucura e trabalho

O convite endereçado pelo Sporting trazia em si encerrado uma espécie de ultimato. Foi transmitido a Hugo Silva que Hugo Silva seria determinante para o regresso do clube ao voleibol. "Quando fui para o Sporting, não o escondo, fi-lo, acima de tudo, pelo voleibol. Disseram-me que se eu não aceitasse o projeto não arrancaria", recorda, sublinhando que aceitou o desafio, sobretudo, "pelo voleibol".

As primeiras aparições do Sporting, a nível competitivo, mostraram que a equipa poderia lutar pelo título, mas os responsáveis, com Hugo Silva à cabeça, nunca determinaram esse como objetivo da época. Acabou por ser possível, anota o técnico, porque houve "muita paixão, uma boa dose de loucura e muito trabalho diário".

"Novelas" numa época de sonho

O Sporting terminou a fase regular do Nacional de Voleibol, com 23 vitórias e uma derrota. O único percalço aconteceu à 4ª jornada, com o Sporting de Espinho, e motivou notícias que davam conta da saída de Hugo Silva, por desentendimento com a direção e alguns jogadores.

O treinador não tem problemas em atacar "as novelas" de uma temporada de sonho para os leões e desmente que tenha acontecido turbulência do nível noticiado. Nesse momento, recorda, apercebeu-se que o regresso do Sporting ao voleibol estava a incomodar muita gente.

"Não tinha noção que a presença do Sporting fosse incomodar. A presença do Sporting devia ser valorizada e, em vez disso, andavam a empurrar o Sporting para baixo", critica.

Desejo de continuar

Hugo Silva terminou contrato com o Sporting, mas não esconde que gostaria de dar continuidade ao projeto. "Há esse interesse [do Sporting] e é há um interesse meu, também", assume o técnico. Além da forma como a equipa se comportou, esta temporada, há ainda a perspetiva de os leões, no próximo ano, lutarem pela presença na Liga dos Campeões.

De regresso à seleção, Hugo Silva não vê motivos para impedir a acumulação de funções, mas sabe que há anticorpos no voleibol nacional relativamente a essa situação. O treinador gostaria de ver as polémicas ultrapassadas, mas sublinha que seria muito importante a seleção nacional ter um treinador português.

Concentrado nos desafios que Portugal tem pela frente, nos próximos meses, Hugo Silva decidirá sobre o Sporting durante o verão. Para já fica a memória de uma época quase perfeita e com argumento de filme de Hollywood.

O Sporting regressou ao voleibol, conquistou o título nacional, 24 anos depois, na "negra" do quinto jogo, frente ao Benfica, o seu maior rival.

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