10 mai, 2018 - 23:25 • Catarina Santos . Fotos: Fernando Bizerra/EPA
Crianças correm à volta do edifício, jogam à bola entre paredes comidas pela humidade, caminham descalças no chão lascado dos corredores. No coração de São Paulo, um prédio abandonado abriga 478 famílias.
São mais de 1.500 pessoas amontoadas em dois blocos – um com 21 andares e outro com nove. Ocupado desde 2010, o Prestes Maia tornou-se símbolo da luta pelo direito à habitação. Fica a poucos metros da Estação da Luz, hoje uma área degradada, mas que já foi zona nobre da maior cidade do Brasil. É atualmente o maior movimento de ocupação da América Latina.
O Prestes Maia já sobreviveu a 26 ordens de despejo, mas está de novo sob pressão das autoridades, depois de um incêndio a 1 de Maio ter feito desabar um prédio de 24 andares, no Largo do Paissandu, causando pelo menos dois mortos e vários desaparecidos.
No rescaldo do acidente – e no meio de uma troca de
acusações sobre a responsabilidade pelo mesmo – a Proteção Civil brasileira
começou a visitar vários edifícios abandonados de São Paulo, para verificar se
têm condições de habitabilidade.
Dentro da gigante construção de cimento, que foi em tempos uma fábrica de têxteis, vivem brasileiros carenciados e também muitos imigrantes. O valor médio da renda de uma casa com 30 metros quadrados em São Paulo ronda os 250 euros – o equivalente ao rendimento mensal de várias famílias que acabam por optar pelos prédios ocupados.
De acordo com a BBC Brasil, o Prestes Maia é gerido pelo Movimento de Moradia Luta por Justiça, que cobra 105 reais (cerca de 24 euros) por família para fazer a manutenção do condomínio e suportar custos com advogados.
O Prestes Maia foi comprado em 2015 pela câmara municipal comprou o prédio, com a intenção de construir 283 apartamentos e regularizar a situação dos inquilinos. Mas para o processo seguir é necessário que todos os moradores abandonem as casas, o que ainda não aconteceu.
Só no centro de São Paulo, há cerca de 70 edifícios ocupados por famílias carenciadas, que não têm meio de comportar as elevadas rendas da cidade. À volta da cidade são mais de 200 as construções nestas condições.
Dados da autarquia local, citados pela revista brasileira Exame, apontam para um défice de 358 mil imóveis na cidade e para um total de 830 mil famílias que vivem em alojamentos precários e a necessitar de obras.