Emissão Renascença | Ouvir Online
A+ / A-

António Campos. "PS entrou em PREC político" e "traiu a sua origem"

04 mai, 2018 - 11:21 • Henrique Cunha

O fundador do PS diz que o partido mudou "de repente", fazendo "uma viragem de 180 graus" perante "julgamentos públicos" como considera ser o caso de José Sócrates.

A+ / A-

António Campos, fundador do PS e antigo deputado, acusa o partido de "trair a sua origem" e de "entrar num PREC político", que o levou a "entrar em julgamentos públicos".

Campos reage assim, na Renascença, à notícia da disfiliação de José Sócrates do PS, após uma sucessão de declarações de altos responsáveis do partido sobre os casos Sócrates e Pinho.

"Lamento a decisão de Sócrates, mas compreendo-a perfeitamente, porque ele foi vítima de julgamento popular. Nós estamos num estado de direito... O PS, durante muito tempo, colocava bem a situação: o que é da justiça é da justiça, o que é da política é da política. De repente, o PS entrou num PREC político. Em vez de exigir que o estado de direito funcionasse, acabou por entrar também nos julgamentos públicos", diz António Campos.

O antigo deputado recorda que, até aqui, "o PS esteve sempre calado sobre todas essas violações, na lógica de um lema que é perfeitamente aceitável: aquilo que é da política é da política, o que é da justiça é da justiça", mas sem "nunca tomar posição quanto ao mau funcionamento da justiça". Contudo, "agora, a poucos dias do Congresso, faz uma viragem de 180 graus, que traiu a sua origem de partido da liberdade".

António Campos reconhece o "embaraço mútuo" a que Sócrates aludo, mas defende que se "exigia ao PS que o Estado de direito funcionasse", porque "essa é que é a regra normal de um democrata e de uma pessoa que ama a democracia e a liberdade: exigir rigor ao estado de direito".

A decisão de José Sócrates segue-se a declarações de vários membros do PS, que começou no líder parlamentar, Carlos César, e terminou no secretário-geral e primeiro-ministro, António Costa, passando, ainda, pelo deputado João Galamba, que se notabilizou, durante largo tempo, como acérrimo defensor de Sócrates.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • MASQUEGRACINHA
    04 mai, 2018 TERRADOMEIO 16:33
    Este pai fundador lá saberá do que fala, quando fala em "trair as origens". Parece, até, estar um passo atrás do próprio Sócrates, que terá decidido ficar-se pelas tais "origens", uma vez que o PS contemporâneo não consegue acompanhar-lhe a passada. Mas quando é que estas pessoas entenderão que o povo já não é o mesmo dos tempos das "origens"? Hoje em dia, já praticamente toda a gente sabe ler e escrever, terão sequer noção disso? Que as diatribes constantes sobre o funcionamento da justiça, o estado de direito, a presunção de inocência, já não comovem ninguém? Que as lavagens ao cérebro já foram suplantadas pelos banhos de realidade? É apenas graças à comunicação social que o povo, votante e pagante, vai sabendo dos escoadouros para onde o dinheiro se some. A SIC mostrou, e explicou, as inextricáveis teias que a justiça tem que desenredar, para que justiça se faça. Depois, cada cavadela, nova minhoca - é da própria natureza deste tipo de processos, como é fácil de entender. O que se pretende, afinal? Que em nome de prazos rígidos e de garantias e presunções inflexíveis, para mais com a falta de meios conhecida (talvez até fomentada), não se levem as investigações até ao fim? Os prazos, também com os muitos recursos dos arguidos, têm levado a prescrições escandalosas. A presunção de inocência não é mais que o copo meio cheio da presunção de culpabilidade: afinal, trata-se de suspeitos e arguidos. O MP insiste e não desiste - e o PS, não podendo vencê-los, juntou-se a eles.

Destaques V+