Denúncias anónimas, controle financeiro e boas práticas

Acabo de aterrar em Portugal e estou de regresso à Renascença.

Ontem e hoje, estive reunido na sede da FIFPro, na Holanda, em reunião do Board da Divisão Europa, para discutir temas centrais na política desportiva mundial, como o calendário internacional, o sistema de transferências, o diálogo social europeu, o futebol feminino ou a relação com a FIFA, UEFA, ECA e EPFL.

Acredito na cooperação entre os agentes desportivos para a reforma do sistema e estou confiante no papel que Portugal pode e deve desempenhar, na implementação das mudanças que se desejam. Seja através do Sindicato, da Federação ou da Liga. Porque a nossa qualidade vai para além das quatro linhas.

Por falar em Portugal, sou confrontado, à chegada, com mais uma notícia que envolve uma denúncia anónima sobre alegada tentativa de corromper o guarda redes do Marítimo Amir Zadeh. Lamento que continue esta pouca vergonha e que, além de anónima, tenha passado a ser pública. Mais uma vez, o segredo de justiça foi violado, importa apurar responsáveis. Porque o bom nome e a idoneidade profissional do jogador foram ofendidos.

A classe dos jogadores está unida e preparada para lidar com especulações, comentários, acusações e denúncias, menos certezas tenho de que a imagem do futebol português e do funcionamento da nossa justiça não continue a degradar-se. Uma certeza tenho, não é na praça pública que resolveremos os problemas que afetam o nosso futebol.

Ainda quanto à atualidade do futebol português, até ao passado dia 15 de abril, os clubes que participam nas competições profissionais tiveram de fazer prova do pagamento das retribuições aos jogadores até 30 de março deste ano, juntando os documentos comprovativos do pagamento efetivo (depósito ou transferência bancária) ou relatório subscrito pelo revisor oficial de contas a atestar este cumprimento. Conseguimos, após luta de diversos anos, que as célebres declarações de quitação assinadas pelos jogadores deixassem de valer como meio de prova em mecanismo de controlo financeiro.

Deixo, por isso, um alerta e um apelo aos revisores oficiais de contas para que honrem o seu estatuto deontológico e não pactuem com falsas declarações, que serão imediatamente reportadas às entidades competentes, caso delas tenhamos conhecimento.

Aos jogadores, o apelo é para que não adiem o problema, nunca foi aceitável viver com salários em atraso, mas hoje é especialmente gravoso atento o esforço conjunto de Sindicato e Liga para apoiar um programa de saneamento financeiro dos clubes e a promoção da transparência e boa governação que tem caracterizado as instituições que tutelam o futebol a nível mundial.

Duas notas finais, uma para dar os parabéns os finalistas da Taça de Portugal, Sporting CP e Desportivo das Aves, destacando o percurso do Caldas e a mobilização da cidade para apoiar a equipa.

A segunda, para louvar a iniciativa conjunta dos departamentos de comunicação do Rio Ave e Chaves, que na antevisão do jogo, deram as mãos na defesa do futebol.

Muito mais que um jogo, o futebol deve ser uma ferramenta de identidade cultural, tolerância e respeito pelo adversário.

Despeço-me, com um abraço do tamanho do nosso futebol.

Joaquim Evangelista, presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF), assina, todas as semanas, um espaço de opinião na edição alargada de Bola Branca, às 22h30.