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PGR condena exibição de imagens de interrogatórios a Sócrates

18 abr, 2018 - 13:00

Ministério Público anunciou a abertura de um inquérito para investigar esta situação.

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A procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, disse, esta quarta-feira, ter ficado desagradada com a divulgação na televisão de vídeos dos interrogatórios da Operação Marquês, no âmbito do qual o Ministério Público acusou, entre outros o ex-primeiro-ministro José Sócrates.

"O Ministério Público e a procuradora-geral fica sempre desagradada quando vê factos que constituem a prática de um crime", afirmou aos jornalistas Joana Marques Vidal, à margem de um seminário sobre maus tratos de crianças em Leiria.

A SIC e a CMTV divulgaram vídeos de interrogatórios no âmbito do processo "Operação Marquês", tendo na terça-feira o Ministério Público (MP) anunciado a abertura de um inquérito para investigar esta situação.

"Embora o processo em causa já não se encontre em segredo de justiça, a divulgação destes registos está proibida, nos termos do art.º 88º n.º 2 do Código de Processo Penal, incorrendo, quem assim proceder, num crime de desobediência (artigo 348.º do Código Penal)", refere o MP numa resposta à agência Lusa.

Questionada sobre o que está a falhar quando são recorrentes as violações do segredo de justiça e a divulgação de peças processuais, Joana Marques Vidal declarou que todos, enquanto cidadãos, magistrados, jornalistas, elementos titulares de cargos públicos e políticos, advogados, membros de órgãos de polícia criminal, têm "obrigação de cumprir a lei".

"Esta questão de violação da lei, quer relativamente à violação do segredo de justiça, quer neste caso a uma violação que leva a um crime de desobediência, é uma responsabilidade de todos nós e isso é que eu penso que é necessário nós interiorizarmos", continuou, sublinhando que esta é uma questão "de toda a sociedade, principalmente dos responsáveis, dos intervenientes da área", e não apenas da responsabilidade do Ministério Público.

A procuradora-geral da República insistiu que "isto é necessário que seja interiorizado por todos" e frisou que esta não é apenas uma questão criminal, mas também "ética e deontológica de todos os profissionais".

À pergunta sobre eventuais novas medidas nesta matéria, Joana Marques Vidal voltou a defender uma reflexão.

"Nós temos um modelo de reação penal que está previsto na lei relativamente à questão da violação do segredo de justiça e respetiva sanção. Há outros países que têm outros modelos. Isto tem de ser um debate que tem de ser efetuado por todos para realmente depois haver uma opção. A opção político-institucional é feita pelos representantes do povo na Assembleia da República (...). O que eu apelo é que haja uma reflexão séria, serena, sobre os modelos existentes nos outros países e sobre aquilo que nós em Portugal pretendemos relativamente a esta questão", acrescentou.

O inquérito Operação Marquês culminou na acusação a 28 arguidos - 18 pessoas e nove empresas - e está relacionado com a prática de quase duas centenas de crimes de natureza económico-financeira.

José Sócrates, que chegou a estar preso preventivamente durante dez meses e depois em prisão domiciliária, está acusado de três crimes de corrupção passiva de titular de cargo político, 16 de branqueamento de capitais, nove de falsificação de documentos e três de fraude fiscal qualificada.

Entre outros pontos, a acusação sustenta que Sócrates recebeu cerca de 34 milhões de euros, entre 2006 e 2015, a troco de favorecimentos a interesses do ex-banqueiro Ricardo Salgado no Grupo Espírito Santos (GES) e na PT, bem como por garantir a concessão de financiamento da Caixa Geral de Depósitos ao empreendimento Vale do Lobo, no Algarve, e por favorecer negócios do Grupo Lena.

Além de Sócrates, estão acusados o empresário Carlos Santos Silva, amigo de longa data e alegado `testa de ferro´ do antigo líder do PS, o ex-presidente do BES Ricardo Salgado, os antigos administradores da PT Henrique Granadeiro e Zeinal Bava e o ex-ministro e antigo administrador da CGD Armando Vara, entre outros.

A acusação deduziu também um pedido de indemnização cível a favor do Estado de 58 milhões de euros a pagar por José Sócrates, Ricardo Salgado, Carlos Santos Silva, Armando Vara, Henrique Granadeiro e Zeinal Bava e outros acusados.

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  • lv
    21 abr, 2018 lx 11:53
    O quê? a PGR condena as acções da PGR???
  • fanã
    18 abr, 2018 aveiro 17:48
    Simplesmente "LAMENTÁVEL" , até que ponto é que o MP chegou, fazer destes interrogatórios um (reality show), que seja deste caso ou de qualquer outro . Só falta , se vamos por este caminho , fazer os interrogatórios num estádio de futebol , o Povinho atrasado não hesitaria a adquirir bilhetes para ver o ESPECTÁCULO ! .......... Falta de Ética, Moralidade , Sigilo e Respeito para o que ainda não foi declarado culpado em Tribunal . Pouca vergonha do MP !

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