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Termina o pesadelo em Ghouta? Último grupo rebelde está de saída

02 abr, 2018 - 15:20 • Filipe d'Avillez

Segundo fontes militares, haverá apenas alguns rebeldes do Jaish al-Islam que não aceitam a retirada, mas “eventualmente, todos vão ter de aceitar”.

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O último grupo rebelde que ainda está em Ghouta oriental, nos arredores de Damasco, está a retirar da região, segundo a imprensa estatal síria.

A televisão leal ao Governo diz que oito autocarros com 448 pessoas a bordo já tinham abandonado Douma, a última cidade em Ghouta que estava ainda na posse de rebeldes, mas uma fonte militar diz à Reuters que haverá ainda alguns rebeldes que estão a rejeitar o acordo, revelando divisões no seio do Jaish al-Islam, uma milícia ligada à al-Qaeda.

Outros dois grupos rebeldes que atuavam em Ghouta já aceitaram os termos do Governo Sírio, retirando para Idlib, na zona fronteiriça com a Turquia, numa região dominada ainda por rebeldes que são apoiados pelo exército turco. Segundo o acordo os rebeldes deixam armas e munições pesadas e partem apenas com as suas armas pessoais e acompanhados das suas famílias.

A fonte militar contactada pela Reuters desvaloriza a resistência de alguns rebeldes em Ghouta. As Forças Armadas da Síria já disseram que se alguns rebeldes rejeitarem o acordo usarão da força para os retirar, ou eliminar. “Eventualmente todos vão ter de aceitar o acordo”, diz a fonte.

A crise humanitária em Ghouta, que durante sete anos foi um enclave rebelde nos arredores de Damasco, colocando bairros inteiros da capital à distância dos morteiros dos militantes antirregime, captou as atenções do mundo, com vários governos e ONG a pedir o fim das hostilidades.

Mas Damasco, alegando a necessidade de garantir a segurança dos seus cidadãos, avançou com uma operação militar, com o apoio da força aérea russa, que acabou por forçar os rebeldes a aceitar a retirada.

A confirmar-se a libertação de Ghouta, trata-se da mais importante vitória militar para o regime de Bashar al-Assad desde que libertou Alepo, em condições muito semelhantes, no final de 2016.

E agora? Esperar e ver

Contudo, poderá ser algum tempo até que Damasco consegue outra vitória desta natureza, uma vez que o resto do território do país que não está sob controlo do Governo é ocupado por grupos que contam com o apoio direto de grandes potências.

A segunda maior faixa de território na Síria é ocupada pelas Forças Democráticas da Síria, uma aliança de milícias curdas, árabes e cristãs que atua sobretudo no norte e nordeste do país e que tem sido o parceiro no terreno da coligação internacional que luta contra o Estado Islâmico, tendo conseguido praticamente eliminar esse grupo terrorista do mapa sírio.

No papel, as FDS opõem-se ao regime de Bashar al-Assad, mas nos últimos anos as duas forças têm evitado confrontar-se diretamente e, nalguns casos, até têm colaborado. As FDS orgulham-se de terem montado no nordeste um estilo de governo democrático com representatividade garantida para os diferentes grupos étnicos. Mas a poderosa Turquia, vizinha da Síria, não aceita a preponderância das Unidades de Proteção Militar curdas (YPG) nas FDS, considerando que estes são terroristas e nas últimas semanas levou a cabo uma incursão no norte da Síria para deslocar da zona da fronteira as FDS, ocupando Afrin e ameaçando outras cidades da região.

No terreno a Turquia conta com o apoio do Exército Livre da Síria, um dos primeiros grupos que surgiu para se opor ao regime de Assad, mas que atualmente está reduzido precisamente à fronteira entre a Síria e a Turquia.

Com as FDS apoiadas pelos EUA e outros estados que recusam negociar com Assad, e com o Exército Livre apoiado pela Turquia, que também rejeita o regime de Damasco, o Governo sírio fica com pouca margem de manobra para se expandir sem risco para a sua própria sobrevivência. Mais, enquanto as FDS e a Turquia estiverem a combater entre si o regime deve ter pouco interesse em meter-se na confusão.

Com a libertação total dos arredores de Damasco e de Alepo, Assad controla a faixa ocidental e litoral do país, que é de longe onde se concentra a maior parte da população, bem como o essencial da indústria e comércio do país, pelo que o Governo verá agora pouca necessidade de tomar riscos desnecessários.

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