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Pedrógão Grande

Pedro, o padre que acompanha famílias que perderam os filhos

31 mar, 2018 - 17:34 • Susana Madureira Martins

Pedro Santos, pároco em Coimbra, esteve em Pedrógão Grande a celebrar a Missa do Lava Pés, mas esta é uma região que conhece bem desde os incêndios do verão passado.

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Na Semana Santa não há mãos a medir, o trabalho de um padre é a dobrar e a prova disso mesmo é o padre Pedro Santos que nos últimos dias tem andado entre Coimbra, Figueiró dos Vinhos, Pampilhosa da Serra e Pedrógão Grande. O pároco desta vila, Júlio Santos, tem também a seu cargo a paróquia de Figueiró dos Vinhos e pediu ajuda para as celebrações destes dias.

E aí está o padre Pedro que apanhámos na igreja Matriz de Pedrógão a presidir à Missa da Ceia do Senhor e do Lava Pés, na Quinta-Feira Santa. Trabalha no hospital dos Covões, em Coimbra, tinha tempo livre e disponibilizou-se para dar a mão a esta comunidade em plena Páscoa.

Durante a celebração ficou a saber dos vários ofícios e solenidades de Pedrógão Grande e logo aí valorizou a religiosidade desta vila. Num discurso corrido e humorado o padre Pedro Santos notou que “podem às vezes durante o resto do ano andar zangados e irritados, mas ali fazem as pazes e todos colaboram e sente-se que o coletivo mergulha no mistério, é engraçado”, rematou.

Nesta conversa com a Renascença o padre Pedro sublinhou que “em Coimbra não é muito normal, em Coimbra já está mais secularizado, aqui o interior ainda tem um sentido de fé muito profundo” notando que tudo “passa também por um aspeto teatral, mas não deixa de ser fé” e cenário igual viu na passagem pela Pampilhosa da Serra onde também “se vive profundamente a Semana Santa”.

Mas não é de agora que este pároco urbano de Coimbra conhece estas comunidades do interior. Nesta mesma Semana Santa visitou algumas famílias em Figueiró dos Vinhos que perderam os filhos nos incêndios do Verão do ano passado.

Que se há-de dizer a esta gente? “É estar com eles, apanhar-lhes a lágrima e ouvir os desabafos, não há mais nada a dizer”, começa o padre Pedro Santos. “A perda de um filho querido e de uma maneira dramática é algo que fica marcado para toda a vida”, e, portanto é dar “companhia, uma lágrima, um abraço e é partilhar e dizer que não se está só”, reconhecendo que na Semana Santa “é mais especial ainda”.

Apesar deste discurso doce, durante a homilia da missa do Lava Pés endureceu o tom e deu um valente puxão de orelhas aos “macambúzios” desta vida, tentando recentrar o foco desta população. E usou de humor contando a história do macaco que viu um peixinho na água e foi salvá-lo, “coitadinho que vai afogar-se” e afinal matou-o. Tudo para explicar o que é o Lava Pés, que se trata de “servir o outro como ele precisa e não à nossa maneira”.

O padre Pedro explica que tudo se resume a “pôr a vida ao serviço do outro, ora se o macaco quis ajudar o peixe era perguntar-lhe o que ele precisava e se calhar precisava de um bocadito de pão”. Vai daí “tirou-o da água a pensar que estava a morrer afogado e matou-o mesmo”. E para rematar “foi isso que Jesus quis dizer, que está aqui para servir, se servirem são felizes, se não servirem não são”.

Pelo caminho, ou melhor já no final da celebração deu novo puxão de orelhas e recado para levar para casa aos que olharam de lado o tempo todo por causa da conversa ininteligível de várias crianças de colo que estavam na igreja Matriz de Pedrógão Grande. A quem não gostou do “chilrear das crianças” avisou que “quem não está bem muda-se”, porque aquela “é a casa delas e tem de ser desde pequeninas, para se habituarem a estar cá”.

Celebração terminada o Padre Pedro Santos saiu a correr da igreja Matriz, lembrando apenas que estará neste Sábado Santo em Figueiró dos Vinhos para presidir à Vigília Pascal com a comunidade.

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