27 mar, 2018 - 11:41 • Rosário Silva
Uma panorâmica da Praça do Giraldo, no final dos anos 50, marca a chegada a Évora de Alberto Soares, um jovem escritor, colocado no então Liceu, para lecionar. É o início de uma história, adaptada ao cinema, do homónimo clássico da literatura portuguesa, da autoria de Vergílio Ferreira, “Aparição”.
Um filme teve direito a uma sessão especial em Évora, cidade onde foi integralmente rodado. A apresentação contou com a presença dos atores principais e do próprio realizador. Em declarações aos jornalistas, Fernando Vendrell disse que “foi um filme muito especial”, marcando o seu regresso, à realização. “Esta sessão é muito emotiva”, confessou
O realizador revelou que o ambiente da cidade, que visitou durante o processo de preparação, acabou por alterar o guião. “Há uma energia da cidade, a forma como as pessoas conhecem a obra e nela se projetam, trouxe-me uma informação tão importante que alterou a dramaturgia, o ritmo, o espaço e o tempo do próprio filme”, admite.
À pergunta da Renascença sobre se não teme a comparação entre a obra de Vergílio Ferreira e o filme que realizou, Fernando Vendrell diz que isso "é inevitável", mas sublinha que se trata de "dois objetos diferentes".
"O livro é muito mais denso e o filme é uma leitura dramatúrgica do livro”, argumenta o realizador, para quem o filme “provoca o próprio livro”, obrigando a quem o vê a “emergir na história, numa poética diferente”, projetando “ideias diferentes sobre a obra”.
Mas o filme constitui, igualmente, uma experiência especial para os eborenses. Nele podem ser identificados locais, monumentos e figurantes. “Foi extraordinário e um momento especial para a cidade”, refere Fernando Vendrell.
A sessão especial que Évora recebeu contou com a presença dos atores Jaime Freitas e Victoria Guerra.
No papel de Sofia, a “jovem provocadora, sensual e inconsequente” que vive um romance com o professor, Victoria Guerra evidenciou o bom estado de conservação da cidade. “Por vezes foi difícil por causa do frio, mas as ruas de Évora estão bem conservadas e ainda é possível filmar à época sem ter que mudar muita coisa”, mencionou.
Por seu lado, Jaime Freitas ator que deu vida ao professor Alberto Soares, reconheceu ter sentido “uma certa ansiedade” atendendo à responsabilidade do papel, com o qual até se identificou. “Quando li o livro, descobri muitas coisas sobre mim e identifiquei-me com estas deambulações filosóficas e existencialistas”, acabando “por me misturar com a personagem”, revelou.
“Aparição”, que ganhou o Prémio de Melhor Filme Português no Fantasporto, foi integralmente filmado em Évora, confirmando a relevância do livro de Vergílio Ferreira, um dos dez romances mais significativos da literatura Portuguesa do século XX.