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Afastou a depressão a construir réplicas de moliceiros

22 mar, 2018 - 10:46 • Júlio Almeida

António Simões embarcou tardiamente na arte dos trabalhos em madeira, após deixar a vida na construção civil, que o levou a emigrar durante muitos anos.

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Juntar o útil ao agradável. Foi o que António Simões fez “depois de entrar na reforma, há sete anos”. Sabia de carpintaria e tinha paixão pelos barcos. Começou “mais para passar o tempo”, mas hoje é considerado um dos mais virtuosos construtores de réplicas de barcos típicos da região de Aveiro.

A cave de casa, em São Bernardo, nos arredores da cidade, está transformada em estaleiro de miniaturas de embarcações tradicionais: moliceiros (Ria), xávegas (mar) e bateiras ‘patacha’ (pateira de Fermentelos).

António Simões, sexagenário, tinha já construído o seu próprio veleiro, de seis metros e meio, que levava a navegar entre a Ria e o mar. “Eu sempre gostei de barcos, comprei um quando regressei a Portugal para a pesca e passear com a família”, diz.

Ao passar às réplicas, o antigo emigrante não só apurou o talento para trabalhos manuais como afastou uma arreliadora depressão que 'apanhou' após deixar a profissão de toda a vida.

"Fechava-me aqui dentro. Depois comecei a construir as réplicas; a minha cabeça ocupou-se com outras coisas, fez-me bem", relata.

Além de barcos moliceiros com “muito pormenor”, faz adaptações decorativas (moliceiros de parede, incluindo com caixilho) e vários utilitários (chaveiro, porta canetas, etc.) do ex-libris da Ria de Aveiro.

“Procuro ser o mais fiel possível nas réplicas, porque não falta quem faça tamancos”, brinca.

“Para quem sabe trabalhar madeira como eu, que aprendi com o meu avô, não é difícil; vamos aperfeiçoando à medida que fazemos mais, já se nota uma diferença nas peças ao longo deste tempo. Isso está a acontecer-me agora com o xávega, que eu acho um barco muito lindo”, acrescenta.

António Simões, que chegou a ser arrais de moliceiro em alguns passeios pela Ria, só deixa para a esposa as velas. O resto passa tudo pelas suas mãos. Incluindo as miniaturas da palamenta (mastros e outros objetos ligados à navegação) e as alfaias que eram usadas na apanha do moliço, como o encinho e a padiola, o que dá outra graça às embarcações mais conhecidas da Ria de Aveiro.

Nas pinturas das proas dos moliceiros, além de motivos regionais (a Ria e o farol da Barra), não falta alguma marotice (dizeres populares ou satíricos), como é da tradição.

As vendas são feitas normalmente em feiras, em jeito de passeio, por todo o país, mostrando com orgulho os barcos que denunciam rapidamente a origem de António Simões.

"Nem me preocupo muito nas vendas, é só para a minha cabeça não entrar em parafuso", explica.

Os moliceiros em miniatura mais caros, de 120 centímetros, podem chegar aos 400 euros, pelo trabalho e exigência que levam. “Alguns, os primeiros, que são protótipos, não vendo, vão ficando para o meu museu”, afirma o artesão.

Comentários
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  • Joaquim Coelho
    13 ago, 2023 Aveiro 00:17
    Bom dia Sr. António Simões. Procuro, para oferecer, uma réplica do barco moliceiro. Por favor, pode indicar me onde devo dirigir me para poder comprar. Muito agradecido

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