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Jerusalém terra sem desencontros “quando os homens deixarem de morrer por ela"

17 mar, 2018 - 17:44 • Maria João Costa

No Funchal, o Festival Literário da Madeira juntou no palco as três religiões monoteístas em torno da questão de Jerusalém.

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A frase do antigo primeiro-ministro britânico Benjamin Disrael - que diz “A vista de Jerusalém é a história do mundo, é mais do que isso, é a história do céu e da terra” - foi o tema que juntou o imã da Mesquita de Lisboa, Sheik David Munir, o dominicano Frei Bento Domingues e Esther Mucznik, que esteve em representação da “identidade judaica”.

Com moderação do jornalista João Céu e Silva, o Festival Literário da Madeira e o público da sala do Teatro Municipal Baltazar Dias começou por ouvir Esther Mucznik a recordar que “Jerusalém foi constantemente destruída, saqueada” e que “os judeus foram expulsos”. Mas, no entender de Mucznik a situação da cidade sagrada para as três religiões monoteístas “só deixará de ser uma terra de desencontro quando os homens quiserem deixar de morrer por ela, quando se entender que todos têm lugar lá. Quando se responder a quem pertence Jerusalém e a resposta for a todos aqueles que lá vivem e têm uma relação profunda com Jerusalém”.

O imã da Mesquita de Lisboa elencou as razões históricas porque Jerusalém é importante para os muçulmanos e porque foi a primeira cidade, antes de Meca, para a qual se viravam para as orações diárias. O Sheik David Munir diz que Jerusalém “é um lugar de encontro onde é possível respeitar o outro”, acrescentando que “nós em nome do islão, queremos que os judeus, cristãos, muçulmanos estejam presentes”.

Bento Domingues, que arrancou uma salva de palmas do público, começou por dizer ao público que nunca foi a Jerusalém. Para este frei dominicano “não há lugares sagrados. O único sagrado que há é o ser humano e é o menos respeitado”. Bento Domingues recorda as noticias que diariamente são divulgadas: “todas as notícias que recebemos sobre as religiões só servem para estragar o mundo. Em nome de Deus manda-se matar”. Em representação dos cristãos católicos neste debate, Bento Domingues defendeu Jerusalém como um símbolo. “Não seria uma beleza que Jerusalém se tornasse num lugar de referência, um foco e símbolo de que é possível as pessoas viverem umas com as outras”.

Mas no debate, Esther Mucznik introduziu outra questão. “Em Jerusalém há promiscuidade entre política e religião. Enquanto não houver uma separação clara e nítida, a mensagem universal que é dada pelas religiões é uma mensagem perversa, não é de paz.” No entender da presidente da Associação de Memória e Ensino do Holocausto, a pacificação da cidade de Israel “não se fará de sonhos e mitos, mas de homens e mulheres sentados à mesa com confiança”.

No debate, sem se referir diretamente a casos de radicalização, o representante islâmico admitiu que entre “entre os muçulmanos há um défice” de respeito pelo ser humano. E concluiu que “Jerusalém é um lugar onde o divino está presente”.

Reconhecendo que Donald Trump não tem contribuído para a pacificação da questão de Jerusalém, o Sheik David Munir lembrou que “os religiosos são mais importantes que os políticos” e que têm um papel ao espalhar a palavra e incentivar ao diálogo entre religiões.

Sobre esse diálogo religioso, Esther Mucznik afirmou que “as religiões têm um papel na pacificação. Mas nem sempre é assim”. Para a judia “o problema é dizerem eu detenho a verdade” e no que toca a Jerusalém “hoje o que se passa é que cada um diz que eu sou o primeiro, eu sou o segundo”. Segundo Mucznik “não é essa a questão. Tem de haver diálogo”.

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