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“Proposta de lei diz a judeus e muçulmanos que não são bem-vindos na Islândia”

16 mar, 2018 - 17:20 • Filipe d'Avillez

A Islândia está a discutir a proibição da circuncisão por motivos religiosos. Bispos católicos estão solidários com os muçulmanos e os judeus, que seriam afetados pela lei.

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Os bispos da Europa estão preocupados com uma proposta de lei na Islândia que proibiria, com penas até seis anos de cadeia, a circuncisão de menores por motivos não religiosos.

A lei que está a ser ainda discutida no Parlamento islandês diz respeito apenas à circuncisão masculina. A mutilação genital feminina, que por vezes é chamada também circuncisão feminina, já é proibida na Islândia, como acontece na esmagadora maioria dos países europeus. Mas se esta lei for aprovada, a Islândia tornar-se-á o primeiro país a proibir a circuncisão por motivos religiosos.

A circuncisão é um elemento central da religião judaica e também é largamente praticada por muçulmanos. As comunidades judaica e muçulmana da Islândia são minúsculas, mas já revelaram preocupação, dizendo que esta discussão os faz sentir que não são bem-vindos naquele país.

Na mesma linha os bispos católicos da Europa manifestaram a sua solidariedade com os judeus e os muçulmanos. Numa nota divulgada esta semana, o Conselho das Conferências Episcopais Europeias diz que “é com grande preocupação que organizações cristãs, judaicas e muçulmanas da Europa tomam nota da proposta de banir a circuncisão não-terapêutica de crianças do sexo masculino.”

Os bispos dizem que a lei corresponde a um abuso do direito fundamental de liberdade religiosa e de crença, “mas também será entendida como um sinal de que as pessoas de extrato judaico ou muçulmano não são bem-vindas na Islândia”.

“A circuncisão não é uma cerimónia opcional, mas está no cerne da prática religiosa. É com este rito religioso que os rapazes são acolhidos na sua religião, dotando-os de um sinal da aliança de Deus com a humanidade. Para estas comunidades trata-se de uma expressão integral da fé”, escrevem os bispos.

No Cristianismo, apenas as Igrejas da Etiópia e da Eritreia praticam a circuncisão por motivos religiosos, mas as igrejas cristãs têm manifestado sempre preocupação por leis desta natureza que procuram limitar práticas religiosas. A cidade de Berlim proibiu a circuncisão durante um período, mas o Governo federal acabou por garantir a proteção da prática.

Comentários
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  • Anónimo
    17 mar, 2018 00:18
    Se os bispos católicos apoiam a circuncisão não-terapêutica de bebés cujas famílias aderem a esses rituais medievais, eles que dêem o exemplo e se submetam também a isso. Afinal os bispos alegadamente nem o usam por isso não lhes deve fazer diferença...
  • MASQUEGRACINHA
    16 mar, 2018 TERRADOMEIO 18:44
    Não percebo onde esteja o problema: vão fazer a coisa fora da Islândia e depois voltam para a Islândia, que decerto não fará vistoria alfandegária aos prepúcios, nem quando saem, nem quando entram. Depois, também não percebo a cegueira que leva as pessoas a aceitarem determinadas práticas em nome de certas crenças, mas a negarem-nas a outras. Suponho que a aberração da excisão feminina também tenha bons fundamentos para quem insiste em praticá-la... Todas as mutilações desnecessárias, sobretudo sobre seres indefesos e sem autonomia de expressão, em nome das crenças de outros (pais, bispos ou xamãs, não interessa), são estúpidas e cavernícolas. Ponto final. A Islândia, neste como noutros temas relativos aos direitos humanos, tem sido precursora na implementação do mais elementar bom-senso social. Força Islândia!
  • Anónimo
    16 mar, 2018 17:37
    Nada contra pessoas que praticam as religiões judaica ou muçulmana, mas quem defende a mutilação de bebés não deveria ser bem vindo nem na Islândia nem em Portugal nem em lado nenhum do mundo. A religião é como o álcool: não deveria ser permitida a menores de idade, muito menos na forma de modificações corporais irreversíveis e sem indicação médica.

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