11 mar, 2018 - 23:14 • Eunice Lourenço , Susana Madureira Martins , Catarina Santos
Assunção Cristas – Ninguém a para
Anunciada como “futura primeira-ministra de Portugal”, subiu ao palco para o encerramento do congresso ao som de “There’s nothing holdin’me back”, de Shawn Mendes, traduzível como “nada me detêm” ou “ninguém me agarra”.
Assunção Cristas deu mesmo um “passo à frente” no congresso de Lamego e anunciou-se como “a” alternativa ao Governo de António Costa.
Conseguiu, ao longo dos dois últimos anos, descolar completamente do Governo da troika de que fez parte; alcançou, nas eleições autárquicas, um resultado melhor do que o do PSD e isso fá-la acreditar, como várias vezes repetiu no Congresso, que “não há impossíveis”.
O partido ainda não acompanha na totalidade a sua atitude ambiciosa e descomplexada. Mas nada nem ninguém a irá parar, a não ser a objetividade de um resultado eleitoral.
Adolfo Mesquita Nunes – o condestável
É o cérebro visível por detrás da líder de quem é um condestável fidelíssimo. Mais liberal do que democrata-cristão, convicto das vantagens da globalização, é o grande defensor da zona franca para o interior, de um pensamento mais inovador e ‘fora da caixa’ para a economia e para a proteção social.
Vai ter a oportunidade de levar as suas ideias a votos coordenando o programa eleitoral para as legislativas de 2019. Interessam-lhe mais as ideias do que os cargos e isso é toda uma vantagem para a própria líder, mas também para a forma como o partido o acolhe e aplaude.
Sente-se “em casa”, como disse no Congresso, que várias vezes lhe manifestou apoio e até carinho, dissipando quaisquer dúvidas sobre eventuais efeitos partidários por ter assumido publicamente que é homossexual.
Nuno Melo – o futuro próximo
É uma cara do passado, mas que - apesar de, geralmente, parecer ter um discurso mais deslocado à direita que a estratégia do partido - continua a funcionar tão bem junto de um certo CDS que tem de continuar a ser olhado como um nome do futuro, pelo menos do futuro próximo.
Assunção Cristas sabe isso, por isso o escolheu para liderar a lista às eleições europeias, por isso não se incomoda nem se complexa com seu elevado índice no “palmómetro” do Congresso.
A Nuno Melo vai caber a tarefa de cumprir o primeiro objetivo eleitoral definido neste congresso: duplicar o numero de eurodeputados. Não é um objetivo tão difícil quanto pode parecer. Ele é atualmente o único eleito pelo CDS no Parlamento Europeu, tendo sido eleito na lista de coligação com o PSD, mas em 2009 liderou a lista do CDS que conseguiu dois eleitos. Agora, basta repetir o resultado e levar consigo para Bruxelas o ex-ministro Luís Pedro Mota Soares.
Francisco Rodrigues dos Santos – “Chicão Forbes”
Foi o nome mais falado e mais vezes aplaudido no Congresso. O líder da Juventude Popular, recentemente distinguido pela revista “Forbes” como uma promessa política, funcionou como líder de um corpo que mostrou o seu peso dentro do partido que forçou mesmo ao prolongamento dos trabalhos.
Francisco Rodrigues dos Santos chegou a Lamego com uma estratégia de afirmação da JP e saiu com a garantia de que fará parte das listas de deputados em lugar elegível.
Mais conservador do que a direção do partido, foi dele o discurso mais inflamado em defesa da vida e contra a legalização da eutanásia. E, mostrando mais uma vez que é um estratega, foi acompanhado nesse discurso pela larguíssima maioria das dezenas e dezenas de militantes da sua “Juventude Pretoriana” que subiram ao palco de Lamego.
Nádia Piazza – a surpresa independente
Foi a surpresa guardada por Assunção Cristas para o Congresso. Nádia Piazza, a cara da Associação de Famílias das Vitimas do incêndio de Pedrógão Grande, vai integrar o grupo coordenado por Mesquita Nunes para sistematizar o programa eleitoral do CDS.
“Uma jovem mulher que todos ficámos a conhecer pela forma como tem transformado a tristeza e o infortúnio de 2017 num trabalho a favor de todas as vitimas de Pedrogão”, foi assim que a líder do CDS a definiu no Congresso.
A própria Nádia Piazza já assumiu que esse infortúnio e a revolta que sentiu pela morte do filho, do ex-marido e da ex-sogra no incêndio de junho a fizeram descobrir que havia em si uma política, não no sentido partidário que geralmente é associado a essa palavra. Ao integrar, como independente, um grupo criado pelo CDS terá encontrado um meio para dar sequência e levar à prática o que tem pedido para o interior. E o CDS – que já tem um militante a liderar a associação de vitimas dos incêndios de outubro - tem mais uma ponta-de-lança legitima para o debate que se perspetiva na época de incêndios.