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Évora acolhe ​exposição com vestígios arqueológicos da aldeia submersa pelo Alqueva

08 mar, 2018 - 10:53 • Rosário Silva

“Luz - Arqueologia nos novos caminhos da água” mostra peças da pré-história, mas também da época romana e algum espólio funerário.

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Entre 1998 e 2003, um combinado de escavações arqueológicas, no âmbito do então “Plano de Minimização de Impactes Patrimoniais de Alqueva”, produziu um significativo espólio arqueológico da freguesia da Luz, a aldeia que foi desmantelada e submersa pelas águas da grande barragem.

Por essa altura, António Carlos Silva liderava parte dos trabalhos, numa operação inédita até à data. “Foi um privilégio acompanhar e coordenar, diretamente, os trabalhos durante seis anos, na zona de Alqueva”, confessa à Renascença, a propósito da exposição “Luz - Arqueologia nos novos caminhos da água” - uma parceria da EDIA, empresa que gere o Alqueva e do Museu da Luz com a Direção Regional de Cultura do Alentejo.

A exposição, patente até abril na Galeria da Casa de Burgos, em Évora, mostra o contexto das campanhas de trabalhos arqueológicos executados no âmbito do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva, onde foram inventariados cerca de 6.800 novos sítios arqueológicos e intervencionados mais de 1.700. Só no território da Freguesia da Luz, inventariaram-se mais de 240 elementos patrimoniais, tendo-se realizado escavações arqueológicas em cerca de 50.

“Temos peças muito interessantes da pré-história, mas também da época romana e, curiosamente, algum espólio funerário ligado às sepulturas que foram encontradas na igreja da Luz que, como se sabe, teve que ser demolida e desmontada”, refere o especialista.

“O que aqui temos”, explica António Carlos Silva, “é uma chamada de atenção” por via “destes objetos arqueológicos” que constituem “uma espécie de vestígio de uma História que estava esquecida e que esse processo ajudou a recuperar”.

O arqueólogo conta, ainda, à Renascença que no decorrer dos trabalhos acabou por ser surpreendido: “Sim, há um aspeto que me surpreendeu e que foi a descoberta de arte rupestre no rio Guadiana, sobretudo na margem espanhola onde era mais abundante, mas também do nosso lado, no concelho do Alandroal”.

Apesar de alguns contratempos com a vizinha Espanha, à comunidade de arqueólogos foi permitido o desenvolvimento de investigação em torno das gravuras descobertas na envolvência da barragem, vindo todas elas a ficar submergidas.

Mas na nova aldeia da Luz também há vestígios do passado. Junto ao atual museu, é agora possível visitar as ruínas romanas Julioa24. Exploração unifamiliar do século I/II d.C., que terá funcionado durante três gerações, esta pequena quinta romana foi igualmente identificada e escavada durante o Levantamento Arqueológico e Patrimonial de Alqueva.

“São as ruinas de um casal romano, que está muito bem conservado e que é extraordinário”, acrescenta António Carlos Silva. Tendo em conta que “o solo da zona da Luz é pobre, dado que estamos a falar de uma terra esquelética”, adita, e onde “mesmo assim, foi possível definir a planta de um pequeno casal, que é uma espécie antepassado de um pequeno monte pequeno com as suas salas, um pátio, e aquilo que imaginamos que seria um celeiro.”

Aposentado há poucas semanas, o arqueólogo continua a dar o seu contributo e a partilhar conhecimentos. Vai ser o orador da conferência “Arqueologia na Freguesia da Luz: uma experiência particularmente positiva no contexto do Projeto Arqueológico do Alqueva” que acontece a 14 de março, na Galeria da Casa de Burgos, em Évora.

É, de resto, neste espaço que está patente a exposição “Luz - Arqueologia nos novos caminhos da água”. A mostra contém parte do vasto espólio arqueológico da freguesia que pode ser visitado, com mais tempo, no Museu da Luz. Da pré-história até à época moderna, há muito para conhecer, com destaque também para a coleção proveniente do emblemático Castelo da Lousa, o espólio resultante dos trabalhos de levantamento artístico, arquitetónico e arqueológico da Igreja de Nª Srª da Luz (demolida e reconstruída na nova povoação), e os artefactos encontrados no sítio romano Julioa 24.

O Museu da Luz foi inaugurado em 2003 e já foi objeto de várias nomeações e prémios internacionais, procurando, através do seu espólio, perpetuar o passado histórico-arqueológico das terras submersas pela albufeira de Alqueva na freguesia da Luz.

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