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Vaticano publica documento sobre salvação, face às confusões deste tempo

01 mar, 2018 - 13:10 • Aura Miguel

Texto do documento da Congregação para a Doutrina da Fé condena tanto o neo-pelagianismo como o neo-gnosticismo, ou seja, as ideias de que a pessoa se pode salvar a si mesma.

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O Vaticano publicou esta quinta-feira uma carta aos bispos sobre “certos aspectos da salvação cristã”.

Assinada pelo prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o texto aborda temas de que o Papa Francisco tem falado com insistência desde a sua eleição. Neste texto de perguntas e respostas a Renascença ajuda-o a compreender o conteúdo do documento “Placuit Deo”.

A Carta destaca alguns aspetos da salvação cristã que hoje podem ser difíceis de compreender por causa das transformações culturais. Facilmente se questiona a proclamação da fé cristã de que “Jesus o único Salvador de todo o homem e da humanidade inteira”. E esse impacto cultural negativo reflete-se em vários níveis.

Que níveis são esses?

Por um lado, “o individualismo centrado no sujeito autónomo, que tende a ver o homem como um ser cuja realização depende somente das suas forças. Nesta visão, a figura de Cristo corresponde mais a um modelo inspirador de ações generosas”. Por outro lado, a visão de que a salvação é meramente interior e que basta a “convicção pessoal” de estar unido a Deus para se salvar. São dois desvios que se assemelham a duas antigas heresias: o pelagianismo e o gnosticismo, como o Papa Francisco tem dito repetidas vezes.

E que heresias são essas?

O pelagianismo diz que o homem é radicalmente autónomo e capaz de autorrealização, que a pessoa, sozinha consegue salvar-se. Já o gnosticismo despreza o corpo e alheia-se dos outros e do mundo, agarrando-se a certos conhecimentos pagãos.

Por isso, esta carta reafirma que “a salvação consiste na nossa união com Cristo” e que a sua Encarnação, vida, morte e ressurreição, gera uma nova ordem de relações com Deus e entre os homens.

No texto lê-se: “Como poderia Cristo mediar a Aliança da família humana inteira, se o homem fosse um indivíduo isolado, que si autorrealiza somente com as suas forças, como propõe o neo-pelagianismo? E como poderia chegar até nós a salvação mediante a Encarnação de Jesus, a sua vida, morte e ressurreição no seu verdadeiro corpo, se aquilo que conta fosse somente libertar a interioridade do homem dos limites do corpo e da matéria, segundo a visão neo-gnóstica?”

Se esta carta reafirma a doutrina católica, porque saiu agora?

Porque vivemos em tempos de ambiguidade e relativismo, à mistura com sincretismos da moda, tendências new-age, etc., e também por muita gente confundir a misericórdia de Deus com a salvação imediata. Mas não é isso que a Igreja ensina. O Papa explica que ser cristão “não é uma decisão ética, nem uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa” – Cristo – que “não se limitou a mostrar-nos o caminho”, mas que se tornou “Ele mesmo o caminho”.

E como se percorre esse caminho?

Naturalmente, para a Igreja, é precisamente na Igreja, pois esta é “o lugar onde recebemos a salvação”, diz o texto. É um caminho que começa no batismo e nos outros sacramentos e que não se faz à margem dos outros nem do mundo.

Talvez seja também uma resposta a tantos que hoje em dia dizem que gostam muito do Papa, mas não da Igreja.

E os que não estão na Igreja, ou são de outras religiões?

O texto recorda o que já foi por outros Papas e pelo Concílio Vaticano II, ou seja, que os cristãos devem “estar prontos para um diálogo sincero e construtivo com os crentes de outras religiões, na confiança que Deus pode conduzir à salvação em Cristo “todos os homens de boa vontade, em cujos corações a graça opera ocultamente”.

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