28 fev, 2018 - 07:03 • Inês Rocha
Considera-se um “saloio” a viver na cidade e canta-o com orgulho. Nasceu na Lourinhã, passou pelo Porto e pela América Latina e assentou arraiais em Lisboa, há cinco anos. Uma cidade onde continua a viajar, desta vez através da música. Este mês, o cantor, compositor e saxofonista Diogo Picão lança o seu primeiro álbum, "Cidade Saloia", editado pela Lugre Records.
O álbum inclui 12 canções originais, 11 delas em português e uma em castelhano. Composições que “foram acontecendo”, ao longo de dois anos a tocar em Lisboa, e foram “juntando pessoas” de várias geografias.
Dos 16 músicos que participam no disco, apenas sete são portugueses. Um deles, o guitarrista Anders Perander, é finlandês e constrói cavaquinhos em Lisboa. Há ainda alemães, italianos, espanhóis, um holandês e um búlgaro.
O músico explica que a diversidade lhe veio do gosto pelas viagens. “Sempre gostei muito de viajar e a viagem sempre foi uma coisa que marcou as canções”, explicou, em entrevista a Ana Galvão e José Pedro Frazão, nas tardes da Renascença.
Diogo Picão viveu um ano no Equador e viajou pelo Brasil durante alguns meses, à descoberta da música daqueles países. Nessas viagens, explorou sonoridades que coloca na sua música.
Hoje, vive em Lisboa e diz continuar a viajar a cada concerto. “O que sinto em Lisboa é que há possibilidade de viver a viajar, sem sair da cidade”, diz.
Diogo Picão começou o seu percurso musical aos 15 anos, na escola de Jazz de Torres Vedras, e fez o curso de Jazz na Escola Superior de Música do Porto. A paixão pela escrita de canções surgiu logo durante o curso, quando começou a aprender piano. Uma paixão que aliou ao gosto pela palavra.
O processo criativo não é sempre igual – umas vezes escreve primeiro as letras, outras vezes as melodias vêm antes. Outras saem de uma assentada, tudo ao mesmo tempo. Quando escreve, tem como referência cantautores portugueses e brasileiros, como Sérgio Godinho, Zeca Afonso, Chico Buarque ou Caetano Veloso.
Para construir a sua “Cidade Saloia”, convidou vários músicos, incluindo Salvador Sobral, que participa no tema “Sem Respostas”. Uma parceria que surgiu “naturalmente”, ainda antes de o Festival da Canção ter “explodido” na vida do cantor.
“Conhecemo-nos em Lisboa, a tocar, ele gostou das canções, eu gostei da voz dele e o convite surgiu naturalmente”, explica Diogo.
O nome do álbum é também o nome da primeira música. “Cidade Saloia” conta a história “de alguém que vem do campo e se deslumbra pela cidade, que se esquece um pouco das origens e depois se arrepende, e volta a dar valor ao que tinha”.
A história não é autobiográfica, porque o músico diz ter muito orgulho das origens vê uma relação próxima entre o campo e a cidade.
“O termo "saloio", que define originalmente os habitantes a zona a norte do Tejo, passou a ser um termo pejorativo, mas eu tenho bastante orgulho de ser dessa zona e acho que há uma influência muito grande de parte a parte”, explica o cantor. “Seja porque muito do que se ouve e lê no campo é produzido na cidade e o que se come na cidade, o que se veste e até o que se diz tem essa influência "saloia", no bom sentido”.
Com o disco pronto, “acaba um processo e começa outro”. Esta quarta-feira, é altura de apresentar o álbum, às 21h30, no Teatro do Bairro, em Lisboa.
O disco pode ser encomendado no site do artista.