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Rúben Semedo. “Não podemos deixá-lo cair num mau momento da vida”

22 fev, 2018 - 07:40 • João Carlos Malta e Inês Rocha

Presidente do Futebol Benfica recorda o jogador que jogou no "Fofó" durante um ano. Está incrédulo, mas não deixa cair o central, “um puto sempre correto”. Domingos Estanislau acredita que foram as companhias e os bons carros a levar Semedo para os maus caminhos.

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Entrou ali, no campo do Futebol Benfica, com 14 anos. Era ainda o projeto de jogador que viria a ser: titular do Sporting e da seleção nacional de sub-21, vendido numa transferência milionária de 14 milhões de euros para Espanha. Já nessa altura dava para ver a pinta, a de craque, mas o outro lado que agora parece emergir com as acusações de roubo, sequestro e agressões, não se via. Nem de perto, nem de longe.

“Surpreende-me esta situação do Rúben. Tem 23 anos, tem todas as condições para ter uma boa vida. Tem toda a vida à frente. Que se deixe dessas coisas, a ser verdade o que agora dizem. Surpreende-me sinceramente, surpreende-me”, repete o presidente Domingos Estanislau, que há nove anos abriu as portas do Futebol Benfica ao miúdo que vinha do Casal de São Brás, na Amadora.

O presidente do Sporting, clube que Semedo representou durante dez épocas, também não conteve a estupefação: “Não compreendo nada, não esperava nada disto. Nunca aconteceu nada com ele que não as coisas normais dos jogadores", afirmou Bruno de Carvalho ao jornal espanhol “Marca”.

"A minha recordação dele é muito boa. Era um rapaz trabalhador que lutou muito para chegar à primeira equipa. Para mim é uma surpresa o que está a acontecer com ele. Inclusivamente quando esteve emprestado [V. Setúbal e Reús], as informações sempre foram boas e voltou ao plantel principal", acrescentou.

São as companhias e os carros

Ainda mal refeito das notícias que põem Rúben detido numa prisão em Espanha, o líder do Futebol Benfica avança com uma explicação para o que aconteceu.

“Estes miúdos têm uma dificuldade enorme: as companhias. Ganham bem, têm bons automóveis e às duas por três podem ser levados para campos que não são os melhores”, avança o presidente histórico do Fófó (nome como é conhecido o Futebol Benfica).

Esta é a terceira vez que o ex-jogador do Sporting, agora ao serviço dos espanhóis do Villareal, é detido em Espanha. No mais recente incidente, Rúben Semedo foi detido na madrugada desta terça-feira, 20 de fevereiro, suspeito de ter cometido delitos de "agressão e sequestro (retenção de pessoa contra a sua vontade)". Aguarda na cadeia uma audiência em tribunal, sendo ouvido esta quinta-feira pelo juiz de instrução.

Na quarta-feira foi noticiado que a Guardia Civil teria encontrado uma arma em casa de Semedo, mas o empresário do jogador, Catio Baldé, veio a terreiro dizer que a pistola não pertencia ao jogador e que ele foi vitima de uma burla.

O advogado do jogador Bebiano Gomes já afirmou, entretanto, que espera que o jogador fique com as medidas de coação mais leves.

Portou-se sempre bem

O presidente do Futebol Benfica recorda um rapaz irreverente, mas “quem não o é, naquela idade?”. “Aliás para se destacarem têm de ter essa característica”, valoriza Domingos. O central deu tanto nas vistas que ficou no Futebol Benfica pouco tempo. No ano a seguir rumaria ao Sporting.

“No tempo que ele aqui esteve, portou-se sempre bem. Não temos nada a dizer. Mesmo agora frequenta as instalações do clube”, lembra o presidente do mítico clube de Benfica com mais de 14 modalidades e mais de mil atletas.

Rúben e o inseparável Gelson, com quem fez dupla no Futebol Benfica mas também no Sporting, continuam a regressar ao passado e a visitar o clube que os ajudou a formar como jogadores. Estanislau empunha a foto que grava uma das últimas visitas da dupla ao estádio do Fófó em meados do ano passado.

O presidente do Futebol Benfica revela que tem tentado falar com o jovem português, mas o jogador do Villareal tem estado incontatável. Estanislau lembra que na altura em que Rúben jogava na freguesia de Benfica estava sempre "em cima dele", e dos outros miúdos, muitos deles oriundos de bairros da Amadora e de Lisboa com problemas sociais.

Estanislau escolhe as palavras, uma a uma, para falar das raízes do internacional português. “Ele é de um bairro complicado. É complicado de dizer...”, começa por afirmar. Depois para e prossegue.

“É melhor dizer que é um bairro social, e isso tem as suas nuances. Nem toda a gente que mora nesses bairros são pessoas más, isso existe em todo o lado. Não quero dar nenhuma conotação que não seja a correta”, explica.

Estanislau diz que ao contrário de outros miúdos que se chateiam na cabine, “porque o treino correu mal ou porque há uma entrada mais ríspida”, com Rúben Semedo “nunca aconteceu”.

“Não há nenhum facto que indiciasse esta situação”, repete. “Se me perguntassem há um ou dois anos "tu prevês que o Semedo amanhã seja um indivíduo assim fora do normal?", eu dizia que não. Ele vem aqui, cumprimenta toda a gente, a malta pede-lhe autógrafos, ele é um puto sempre correto”.

Pulga atrás da orelha

Há dois anos em entrevista ao site “MaisFutebol”, o jogador, recordando a saída por empréstimo do Sporting para o Reus, em Espanha, falava da importância de se “afastar do ambiente em que estava”, para se “afastar das más influências” e não se “deixar consumir por isso.”

“Foi muito bom para mim. Reus é uma cidade tranquila, trataram-me sempre bem, por isso foi bom para me afastar daqui e me ensinar a viver uma vida tranquila”, respondeu na altura.

Agora quando Semedo voltou a Espanha, Estanislau ligou-lhe e o que o jogador lhe disse, deixou-lhe a pulga atrás da orelha.

“Ele reconhecia que era bom para ele sair daqui. Eu aí fiquei um bocadinho apreensivo, é verdade. Se ele tem esta ideia, é porque há aqui alguma coisa”, lembra.

E prossegue com a memória desse telefonema: “Eu disse-lhe: tu só tens que seguir aqueles três pontos que sempre batalhei: trabalho, disciplina e respeitar tudo aquilo que o treinador transmitir”.

Ao olhar para o futuro, Domingos Estanislau espera que tudo isto “seja um copo de água no oceano”.

“O mal é dele, mas nós como sociedade temos que apoiá-lo num momento mau da vida. Se ele entrar por outros caminhos, também não é bom para nós”, remata.

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