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Médicos para ministro: “Ultrapassou a linha vermelha"

21 fev, 2018 - 06:40

Ordem antevê relação difícil com Adalberto Campos Fernandes e classifica como “vergonha e drama nacional” o atraso nos concursos médicos.

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O bastonário da Ordem dos Médicos diz que deixou de acreditar no ministro da Saúde, tal como os clínicos de um modo geral. “Ultrapassou a linha vermelha, não só com os concursos” para os recém-especialistas, como “com a medicina tradicional chinesa”.

“Os médicos já não acreditam no ministro da Saúde. E os médicos [representam] muito mais do que o bastonário”, afirma Miguel Guimarães à agência Lusa, considerando que a relação institucional entre a Ordem e o ministro “vai ser difícil, vai ser muito difícil”.

“Neste momento, já não tenho razões para acreditar no ministro da Saúde”, declarou.

Miguel Guimarães recordou que Adalberto Campos Fernandes já anunciou à Ordem, e também publicamente, que os concursos para os médicos recém-especialistas hospitalares (que acabaram a especialidade há largos meses) iam abrir “dentro de dias”, sem que tal se tenha verificado – isto, em janeiro.

Na sexta-feira, dia 16, o ministro reconheceu “algum atraso” e anunciou a contratação de cerca de 100 médicos de família (especialistas em medicina geral e familiar). Disse ainda que estava “a trabalhar no despacho relativo aos médicos especialistas hospitalares”.

Aos jornalistas, afirmou que “não foi possível” evitar o atraso dos concursos, “mas a situação está resolvida”.

Atraso nos concursos médicos é "vergonha e drama nacional"

Na quinta-feira, elementos da Ordem dos Médicos vão acompanhar um grupo de recém-especialistas da área hospitalar ao Parlamento para entregar uma carta a contestar o facto de 700 profissionais estarem há largos meses à espera da abertura de concurso.

Miguel Guimarães classifica como uma "vergonha e um drama nacional" o atraso na abertura dos concursos para os 710 médicos especialistas que concluíram o internato há cerca de 10 meses.

“É uma situação criada pelo ministro da Saúde, que é não só ilegal mas também imoral. Temos muitos doentes com necessidade de consulta hospitalar, temos doentes em lista de espera para cirurgia e temos, por outro lado, mais de 700 especialistas hospitalares que ainda não foram contratados. É a gestão desastrosa que o Ministério da Saúde está a fazer da saúde”, aponta Miguel Guimarães.

“Isto já é uma coisa mais grave do que uma vergonha nacional. É um drama nacional para os milhares que estão à espera de consulta hospitalar e que estão à espera de ser operados”, acrescenta o bastonário.

Um grupo de médicos recém-especialistas da área hospitalar começou a enviar esta semana uma "carta aberta" a várias entidades e personalidades, como o Presidente da República, o primeiro-ministro e também à Assembleia da República.

Na quinta-feira, o grupo vai entregar a carta na comissão parlamentar de Saúde, acompanhado por elementos da Ordem, incluindo o próprio bastonário.

Na carta, a que a agência Lusa teve acesso, o grupo de médicos recorda que há 710 médicos especialistas que se encontram numa "situação de indefinição e de precariedade do seu vínculo profissional", após terem concluído uma formação médica geral e específica que durou 11 a 13 anos.

"Após a conclusão da especialidade, assistimos a um alijar de responsabilidades por parte do Governo no que respeita ao procedimento concursal", refere a carta que vai ser ainda enviada aos ministros da Saúde e das Finanças, depois de o ministro Adalberto Campos Fernandes já ter recebido uma missiva de um grupo de médicos de medicina geral e familiar também sobre atraso na abertura dos concursos.

Estes médicos especialistas hospitalares e de saúde pública pedem a abertura célere de concursos para serem colocados em instituições do Serviço Nacional de Saúde (SNS), que aguardam há mais de nove meses.

"A ausência de concursos durante o ano de 2017 criou uma indefinição do nosso futuro enquanto médicos especialistas, impedindo-nos de desenvolver projetos profissionais e institucionais para os quais estamos (ainda) motivados e que, acreditamos, iriam contribuir para a melhoria dos cuidados prestados no SNS", afirma a missiva.

Estes médicos consideram que estão também a ser desrespeitados os utentes do SNS: "Porque importa efetivamente quantos segundos, minutos, horas, dias, meses ou anos, os utentes continuam a aguardar por atendimento nos serviços de urgência, consultas de especialidade, cirurgias, exames complementares de diagnóstico, e outros cuidados prestados".

A gota de água

Além da questão dos concursos, o bastonário da Ordem dos médicos aludiu à publicação da portaria que valida a criação de ciclos de estudo que conferem o grau de licenciado em medicina tradicional chinesa.

A portaria foi publicada este mês e recebeu a contestação imediata da Ordem, que acusou o Governo de ameaçar a saúde dos portugueses validando cientificamente práticas tradicionais chinesas através de uma licenciatura.

A Ordem admitiu, por isso, avançar para "formas inéditas" de mostrar o descontentamento dos médicos, mas ainda não concretizou de que forma o fará.

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