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Novos confrontos em Afrin mostram a real complexidade da guerra na Síria

20 fev, 2018 - 19:19

Escalada do conflito ameaça prolongar a guerra-civil ainda mais e colocar frente-a-frente superpotências que, até ao momento, têm evitado o confronto direto.

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Forças do regime sírio tentaram entrar esta terça-feira na cidade de Afrin, que é controlada pelas Forças Democráticas da Síria – uma aliança de milícias curdas, árabes e cristãs, mas dominada pelos curdos – para as ajudar a fazer frente a uma investida das forças armadas turcas.

Segundo a imprensa turca, a comitiva de carros armados foi obrigada a recuar perante os “tiros de aviso” da artilharia turca e mantiveram-se a cerca de dez quilómetros da cidade. Já a imprensa oficial do regime sírio fala do avanço das suas forças para Afrin, mas não refere qualquer retirada.

A escalada do conflito complica ainda mais a já complexa guerra em curso na Síria. Ao longo dos últimos anos a principal preocupação da maior parte dos envolvidos tem sido derrotar grupos marcadamente extremistas, como o Estado Islâmico e outras milícias aliadas à al-Qaeda. Para além das forças do regime formaram-se, em locais que o regime não controlava, milícias de base étnica.

Afrin é de maioria curda e perante a retirada das forças governamentais, em 2012, o poder foi tomado pelas Forças de Proteção Popular (YPG), que mais tarde se juntariam a outras milícias cristãs e árabes para formar as Forças Democráticas da Síria (FDS). Estas forças desempenharam um papel importante no combate ao Estado Islâmico, e nesse contexto receberam apoio militar e logístico dos Estados Unidos. As FDS reivindicam a criação de uma síria federal, o que Damasco rejeita. No papel as forças do regime e as milícias são inimigas, mas na verdade têm-se ignorado, ou até apoiado tacitamente, na luta contra inimigos comuns, como a Frente al-Nusra e o Estado Islâmico.

A Turquia, contudo, alega que a YPG é dominada atualmente pelo PKK, o grupo terrorista que luta pelos direitos dos curdos naquele país. Ancara diz que o PKK utiliza território controlado pelos curdos na Síria para lançar ataques em solo turco e por isso atacou Afrin, que fica perto da fronteira, alegando a necessidade de o fazer para defender o seu território.

Os Estados Unidos ficam numa posição complicada nesta situação, embora já tenham afirmado que a defesa de Afrin não é uma prioridade sua e querem a todo o custo evitar um confronto com a Turquia, que é sua aliada. Mais, o facto de agora as forças armadas regulares da Síria terem-se disponibilizado para ajudar diretamente as FDS em Afrin é um embaraço para Washington, que continua a recusar aceitar a continuidade de Assad no poder. Falta referir o fator Rússia, que publicamente apoia as forças sírias, tal como faz o Irão.

Neste momento no terreno estão, por isso, duas forças militares, uma apoiada pela Rússia e outra pelos Estados Unidos, a aliar-se para se defenderem de um ataque conduzido pela Turquia.

Praticamente eliminada a ameaça do Estado Islâmico, a realidade na Síria está longe de ficar pacificada, podendo até tornar-se ainda mais complexa e perigosa, do ponto de vista internacional.

Potencial esse que se agrava com o abate recente de um caça israelita pelas forças sírias, para gáudio do Irão e da milícia xiita Hezbollah, que parecem apostados em arrastar o Estado judaico para o conflito que há muito deixou de ser apenas uma guerra civil, assumindo contornos regionais e internacionais.

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