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Património

A aula de “iconografia cristã" a que nem a Judiciária faltou

05 fev, 2018 - 23:49 • Teresa Paula Costa

Formação do Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja contou com mais de uma centena de participantes.

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“Iconografia cristã: história, teoria e imagem” foi o tema da ação de formação que o Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja realizou esta segunda-feira, dando início à 2ª edição do Projeto Thesaurus. A sessão decorreu em Fátima com mais de uma centena de participantes.

Pedro Silva é coordenador de investigação criminal da Polícia Judiciária no Porto e participou com a sua brigada nesta ação de formação. Fê-lo porque reconhece a importância deste conhecimento para o trabalho que desenvolve.

Para o agente, “trata-se, em regra, de um crime ou de furto ou de abuso de confiança ou de burla e, se não se tiver informação, e, se não se tiver por exemplo um inventário,” é muito mais difícil o trabalho de recuperação.

Por outro lado, “se a peça estiver inventariada, fotografada, catalogada, ou seja, minimamente descrita,” isso ajuda muito porque “em situações de divulgação que nós temos de fazer a nível nacional e internacional e depois também em ações no terreno, é muito mais fácil localizar e identificá-las.”

O património numa perspetiva de evangelização

A ação de formação contou, igualmente, com a presença de várias pessoas ligadas às dioceses. Fátima Eusébio veio de Viseu, uma diocese que, segundo a organização da ação, “pode ser apontada como exemplo positivo do trabalho que se tem vindo a fazer em Portugal relativamente à preservação e inventariação do património religioso”.

A coordenadora do departamento dos Bens Culturais da diocese salienta que “há já uma política consolidada de consultar o departamento e aceitar a sua orientação”.

No entanto, “ainda continuamos a ter uma realidade paralela onde, às vezes, se verificam intervenções à margem dessas orientações, porque elas nem consultam, porque preferem aquele tipo de intervenção que vai ao encontro do gosto das comunidades”.

A diocese de Viseu tem trabalhado, revela Fátima Eusébio, “a vertente da comunicação do património numa perspetiva de evangelização, o que tem sido muito gratificante e tem sido, muitas vezes, o caminho para chegarmos à outra vertente de uma conservação dos espaços e do restauro com a devida orientação”.

Para Fátima Eusébio, a formação que o Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja tem dado é importante, não só pelos conhecimentos transmitidos, mas também “porque é muito bom quando podemos encontrar outras pessoas com quem se estabelece um diálogo muito gratificante”.

A Bíblia como inspiração

Tiago Moita, sacerdote doutorado em História da Arte, foi o formador desta primeira ação em que falou sobre iconografia, “um método que nos permite decifrar temas, conteúdos e significados das obras de arte”.

Desta vez, baseou-se nas fontes que inspiraram os artistas. Foi o caso da Sagrada Escritura e dos textos apócrifos “que têm também um manancial de histórias e complementam determinados episódios das fontes sagradas ou que nos dão novos episódios que não estavam relatados na Bíblia”.

Uma abordagem introdutória à 2ª edição desta formação que pretende, de acordo com a diretora do secretariado Nacional dos Bens Culturais da Igreja, “dar continuidade à 1ª edição de formação de inventário que se fez e entrar num campo mais especializado que é muito relevante para o estudo, o inventário, descrição, análise e avaliação do património da Igreja”.

Sandra Costa Saldanha revelou que o tema desta 2ª edição é mais específico. Trata-se da iconografia cristã, “um tema muito importante porque a iconografia é uma das ferramentas mais eficazes e mais úteis para analisar, identificar, mas, sobretudo, para a interpretação do património.”

As sessões desta 2ª edição decorrem mensalmente até novembro. Até lá falar-se-á sobre a iconografia da época medieval à idade moderna, e ainda da iconografia ligada às figuras de Jesus, de Maria, dos santos e dos anjos.

Para D. Pio Alves, da Comissão Episcopal da Cultura e Bens Culturais da Igreja, o Projeto Thesaurus tem contribuído para uma maior “sensibilidade para as intervenções de conservação e restauro”.

O bispo reconheceu que “há boas intervenções, mas continua a haver intervenções menos aceitáveis.” “Tudo isto”, salientou o prelado, “é um trabalho que tem de se ir fazendo e, depois, caso a caso, sítio a sítio, tem de haver cuidado e atenção por parque das respetivas instâncias para não deixarem que qualquer pessoa intervenha no património fazendo, muitas vezes, intervenções irreparáveis”.

Para 12 de março, está previsto, no Palácio Episcopal do Porto, o 1º encontro do projeto, em que se fará um balanço do trabalho que tem sido feito nas dioceses na sequência destas formações.

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