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​Não é uma “manif” de pastores: é um grito de socorro

02 fev, 2018 - 08:00 • Liliana Carona (texto, áudio e fotos)

Pastores das zonas afetadas pelos fogos de outubro protestam esta sexta-feira em Lisboa. Querem mais apoios.

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pastores desesperam por ajuda - Liliana Carona

Duas centenas de pastores e agricultores das zonas afetadas pelos incêndios de outubro vão esta sexta-feira a Lisboa, ao Ministério da Agricultura, reivindicar mais apoios para reerguer a vida e o trabalho.

A iniciativa é organizada pelo Movimento Associativo de Apoio às Vítimas do Incêndio de Midões (MAAVIM), a Confederação Nacional de Agricultura (CNA) e Associação Distrital dos Agricultores de Coimbra (ADACO).

Quase quatro meses depois dos grandes incêndios de outubro, os apoios diretos de 5 mil euros não chegam para as dificuldades e candidatar projetos a financiamentos mais elevados exige ter dinheiro primeiro para receber depois.

Nuno Pereira, do MAAVIM, percorre diariamente vários quilómetros no jipe que o leva até às dificuldades.

“Nesta fase em que as pessoas precisam de comida e roupas não se fala de nada. Há famílias sem meios de transporte e sem trabalho. Há aqui situações muito complicadas de gerir e as pessoas vão acabar por esquecer”, lamenta o empresário da região, também ele afetado pelos incêndios.

Em Vila Chã, no concelho de Tábua, Jorge e Carlos Fonseca, pai e filho, vivem da pastorícia. Perderam quase tudo nos incêndios de outubro. Receberam 3 mil euros de ajuda, mas mal chegou para comprar o trator.

“Não chegou, gastei 4 mil euros no trator”, conta Jorge, que não pôde candidatar-se a projeto. “O meu pai só pediu o apoio direto de 5 mil euros”, diz Carlos, 31 anos, interrompido por Jorge, de 57 anos: “Fazer um projeto era um trabalho desgraçado, e não tinha dinheiro para pagar primeiro, e apresentar fatura depois.”

Vão esta sexta-feira ao Ministério da Agricultura juntamente com Rui Alves, da Quinta Areeiro, também no concelho de Tábua.

Aos 51 anos, com três filhos menores, o pastor e agricultor que ficou sem casa passa dias difíceis. “Metade do telhado caiu, já meti um plástico… Ainda nem recebi resposta do seguro, nem do Estado, não tive apoio nenhum, vou a Lisboa pedir que me ajudem, não tenho condições nenhumas para por os animais, nem para viver”, desabafa.

Nem a chuva nem o sol devolveram a cor verde à paisagem do concelho de Tábua. Tudo negro, queimado, as placas não mostram o nome das aldeias. Um trauma que não se esquece.

“Não, porque assisti a tudo, fiquei ali sozinho, é complicado”, afirma o pastor, que todos os meses vê morrer algum dos seus animais. “Hoje morreu o cavalo, que não aguentou as queimaduras dos incêndios, e têm morrido ovelhas, que não ficaram bem desde os incêndios de outubro, talvez pela inalação do fumo”. Rui Alves tem 86 ovelhas, antes dos incêndios tinha quase o dobro.

Comentários
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  • Antonio Silva
    02 fev, 2018 v.n.o 20:40
    quel é que gouverna as moscas que eu tenho em minha casa ? tambem quéro un subecidio🤣
  • Voluntários de Seia
    02 fev, 2018 Seia 08:56
    A Zona Centro sofreu queimaduras de 1º Grau, rerquer Cuidados Intensivos e Continuados. O Povo já nada tem para ordenhar ! ESTAMOS DESORDENHADOS !

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