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Hora da Verdade

Jerónimo de Sousa. “Não se pode estar bem com Deus e com diabo ao mesmo tempo"

01 fev, 2018 - 00:00 • Eunice Lourenço (Renascença) e Sónia Sapage (Público)

Jerónimo de Sousa deixa já o aviso ao PS: não pode andar bem com o PSD de Rio e com a esquerda ao mesmo tempo. Quanto a Centeno, o líder comunista não vê razão para sair do Governo. E ele próprio também não está ainda a ver o momento para deixar de ser secretário-geral.

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Jerónimo de Sousa. “Não calamos as contradições que existem e que podem tornar-se insanáveis"
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Secretário-geral do PCP desde 2004, Jerónimo de Sousa tem 70 anos e integra, desde os 32, o comité central do partido. Por enquanto, não encontra razões para deixar a liderança e só em 2020 haverá congresso.

O que acha da polémica à volta da ida ao futebol do ministro das Finanças Mário Centeno. Se for constituído arguido, deve sair do Governo?

Tendo em conta uma decisão do Partido Popular Europeu, a de promover um debate sobre essa matéria, consideramos que se tratou de uma operação de aproveitamento político de que discordamos. Temos um princípio fundamental: Não comentamos notícias que estejam em processo de investigação ou segredo de justiça. O que consideramos importante é a investigação, o apuramento da verdade.

Deve ser razão para sair do Governo um ministro ser arguido?

O arguido é um suspeito, não é um condenado. É prudente ter este sentido da medida.

O PCP tem alguma leitura política destes casos que subitamente estão a ser investigados?

Não fazemos leitura política. A intervenção do Ministério Público demonstra que a Justiça está a funcionar. Os processos têm de ser desenvolvidos e concluídos. Mas isto não invalida que continuem a existir problemas de fundo, como por exemplo a falta de agentes da Polícia Judiciária ou os oficiais de justiça que, tal como os juízes, esperam pela alteração do seu estatuto.

Como é que o PCP olha para o Pacto da Justiça?

Como dizia a minha mãe: 'a melhor prova do pudim é comê-lo'. Cremos nós que é preciso, perante uma proposta substantiva, encontrar as respostas. Não esquecendo que a celeridade e a eficácia da Justiça passa muito pelos meios, pelos recursos humanos. Não é admissível que para a Polícia Judiciária esteja aberto um concurso há seis anos, sem desenvolvimentos. As leis podem ser magníficas, mas é através da sua aplicação prática e através de forças para a aplicar que se encontra a melhor solução para, no quadro constitucional, se caminhar para uma Justiça que seja justa para todos e não desigual a partir das capacidades económicas de cada cidadão ou empresa. Se essas leis vieram corresponder a este princípio, com certeza que terão o apoio do PCP.

A chegada de Rui Rio à presidência do PSD pode indicar uma mudança de ciclo político?

Se fossemos levados por algumas declarações no seio do PSD e no seio do PS, poderíamos estar perante o ensejo de alguns de repetirem essa coisa desgastada do Bloco Central. Para nós o maior problema não é esse, é saber se vamos continuar um percurso com esses avanços com os passos em frente, se vamos procurar uma política alternativa capaz de responder aos problemas nacionais ou não.

Mas o PSD parece ter um líder mais aberto a consensos com o PS e, nesse sentido, o PS pode ficar no melhor de dois mundos: fala com a esquerda, fala com a direita e faz acordo com quem melhor o servir...

Infelizmente, nesta ou naquela matéria - designadamente na legislação laboral - verificou-se um posicionamento chamado de "geometria variável" que foi inventado pelo António Guterres, mas obviamente não se pode estar bem com Deus e com o diabo ao mesmo tempo, independentemente de quem seja o diabo. Compete ao PS saber se continua este caminho que se tem verificado ou não.

Que pasta teria Jerónimo Sousa num governo se houvesse essa abertura?

Nunca pensei nisso. Não é uma ambição, nem um sonho.

Jerónimo de Sousa tem prazo de validade à frente do PCP? Vai levar este mandato até ao fim, em 2020?

Em relação a lugares de responsabilidade, devemos ser nós os primeiros a decidir o que fazer e, em segundo lugar, ouvir a opinião franca dos meus camaradas de partido. Mais tarde ou mais cedo as responsabilidades serão alteradas, pelas leis da vida, designadamente. Modéstia à parte, o secretário-geral do PCP hoje vai a qualquer ponto do país, de Vinhais ao Corvo, e a forma como é recebido - não é pelos meus camaradas de partido que esses manifestam a afectividade natural – é por muita gente que não é do meu partido a dizer: "Continue".

Um dos temas que vai em breve marcar o debate político é a legalização da eutanásia. O PCP já tem uma posição sobre esse assunto?

Em relação aos militantes do partido, não existe uma unidade de pensamento. Para nós, tem sido fundamental o debate que se faz. Surgem grandes interrogações. Cometeríamos um erro se esta discussão fosse entre médicos e juristas. Não pode ser, é um problema da sociedade e, como tal, tem de chegar o mais longe possível. Mas ainda não temos uma posição fechada.

Comentários
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  • Já Não Há Komunistas
    01 fev, 2018 Pra Lá de Longe 20:35
    Ó Jerónimo, tu conseguiste pronunciar a palavra DEUS?!

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