Tempo
|
A+ / A-

Enfermeiros. "Não estamos a prestar cuidados seguros e de qualidade em Portugal"

26 jan, 2018 - 07:10

Bastonária diz que estes profissionais "estão mal pagos, não são suficientes e estão extremamente zangados com os sucessivos governos”.

A+ / A-

A bastonária da Ordem dos Enfermeiros considera que os portugueses estão a correr riscos nos serviços de saúde devido à falta destes profissionais, que são "poucos, estão exaustos e incapazes de prestar cuidados de segurança e qualidade".

Nestas condições, os enfermeiros "cometem mais erros e é desumano trabalharem muitas vezes sem tempo para comer ou ir à casa de banho", disse Ana Rita Cavaco, que tomou posse como bastonária da Ordem dos Enfermeiros há dois anos, pouco depois do actual ministro da Saúde, cuja actuação classifica de "péssima".

Em entrevista à agência Lusa, realizada por escrito por impedimentos de agenda da bastonária, Ana Rita Cavaco referiu que "os enfermeiros têm hoje menos medo" do que quando tomou posse, mas que "são ainda muito castigados com excesso de trabalho".

"Só em 2016 o país pediu-lhes para fazerem mais de dois milhões de horas a mais, que até agora não lhes pagou", afirmou.

O Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem 41 mil enfermeiros e a bastonária acredita que faltam 30 mil no sistema de saúde.

Os enfermeiros "estão mal pagos, não são suficientes para garantir a segurança e a qualidade dos cuidados e estão extremamente zangados com os sucessivos governos que os elegem como pilar do sistema de saúde mas os maltratam em tudo".

Para Ana Rita Cavaco, os casos mais gritantes atingem todas as áreas: "Hospitais, centros de saúde, lares, cuidados continuados".

"É o cúmulo da hipocrisia ter um enfermeiro num turno para quarenta e, às vezes, sessenta pessoas. Dizer ao país que estamos a abrir unidades de cuidados continuados e paliativos onde existe um enfermeiro para dois pisos, cada um com trinta ou quarenta camas, não é só enganar as pessoas, é criminoso", observou.

Ana Rita Cavaco desdiz o ministro da Saúde sobre a contratação de mais enfermeiros. "É ao contrário. Contratou menos e é muito fácil desmontar os números que apresenta porque se trata de substituições de enfermeiros que vão de baixa médica ou licenças e não de novas contratações", declarou.

E prossegue: "Não estamos a prestar cuidados de enfermagem seguros e de qualidade em Portugal porque não temos o número suficiente de enfermeiros para o fazer".

"Logo no início do mandato apresentámos uma proposta de contratação de três mil por ano, no prazo de dez anos, estamos a falar de migalhas, 65 milhões ao ano", referiu.

Ministro esconde-se dos problemas

Para Ana Rita Cavaco, a actuação do ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, é "péssima".

"A dívida à indústria farmacêutica é hoje maior do que na altura da chegada da 'troika'. Não resolveu um único problema estrutural do SNS e, quando se viu confrontado com denúncias como as que assistimos no final deste ano no hospital de Faro, preferiu esconder-se e provocar os enfermeiros, dizendo-lhes que dessem a cara", acusou.

Segundo a bastonária, "os enfermeiros dão a cara todos os dias nos serviços de saúde e este ministro esconde-se e esconde os problemas que queremos resolver. É incapaz de cumprir um compromisso que assuma, aliás, não cumpriu nenhum nos últimos dois anos".

"Durante a crise dos enfermeiros especialistas demonstrou uma total ausência de sentido de Estado e responsabilidade, insultando publicamente a maior classe profissional do SNS e dizendo-nos em privado que queria lá saber se fechassem todos os blocos de partos do país", acusou mais uma vez.

Para Ana Rita Cavaco, o ministro "nunca fez parte da solução, mas sim do problema; prefere maquilhar os problemas a enfrentá-los e a resolver. Prefere ameaçar e perseguir, como no caso das faltas aos enfermeiros durante uma greve legalmente convocada pelos sindicatos".

Em 2018, a contratação de mais enfermeiros, porque isso é a base de tudo o resto, seria o que de melhor podia acontecer à classe.

"Ter uma carreira estruturada com diferentes categorias e índices remuneratórios e que, de uma vez por todas, lhes reconheça a especialidade e pague mais do que os menos de mil euros que hoje recebem para cuidar da vida de todos nós. Uma carreira que não dependa de nomeações com base em amizades ou cartões partidários é uma questão de liberdade, de premiar o mérito e a competência e interfere naturalmente na melhoria da prestação dos cuidados de enfermagem", concluiu.

Ministro não comenta, mas assegura qualidade dos cuidados de saúde

O ministro da Saúde escusou-se a comentar as críticas da bastonária da Ordem dos Enfermeiros, para quem os utentes portugueses correm riscos, e garantiu que os utentes "têm razões para confiar na segurança do Serviço Nacional de Saúde". Adalberto Campos Fernandes falava aos jornalistas no final da sessão de abertura das XXI Jornadas de Infecciologia do Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC), que decorrem esta sexta-feira em Lisboa.

Confrontado com as críticas que Ana Rita Cavaco proferiu, o ministro limitou-se a dizer que não comenta as afirmações da bastonária.

Contudo, reafirmou, "em nome do Governo", que os utentes têm razões para confiar na segurança do Serviço Nacional de Saúde, na competência dos seus profissionais, na qualidade dos enfermeiros - uma grande profissão - na qualidade dos médicos.

"O sistema está a funcionar, melhor do que estava há um ano, dois anos", disse, prometendo que, até ao final da legislatura, continuará a trabalhar.

Na mesma ocasião, o ministro da Saúde comentou ainda as negociações em curso sobre a nova tabela da ASDE. Adalberto Campos Fernandes classificou de "disparate" um eventual fim da ADSE e disse que a hipótese de os hospitais privados atenderem os beneficiários nas mesmas condições, mas fora da convenção, não passa de uma "táctica negocial".
O governante referia-se às declarações do presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada que revelou que estas unidades de saúde estão a estudar uma forma de os beneficiários da ADSE continuarem a ter acesso aos serviços, nas mesmas condições, mas sem ser através do subsistema de saúde dos funcionários públicos.

[notícia actualizada às 12h57]

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • lv
    26 jan, 2018 lx 21:00
    Para um bom profissional, a ferramenta não é desculpa. Bestanarias, sindicaleiros e calaceiros , tudo nulidades!
  • ah! sim?
    26 jan, 2018 lx 18:25
    E durante 4 anos de governo Passos/Portas, prestaram? Emigraram 20000 enfermeiros nessa epoca e o que fez a (des)Ordem e a bastonaria?...Ordens politiqueiras e de facção não servem a profissão!
  • Guedes
    26 jan, 2018 Figueira 13:52
    Não existem cortes na saúde! Tenho 42 anos e hoje fui ao médico. Verifiquei que tinha uma vacina em atraso, deveria tê-la tomado em 2017. Marquei vez na enfermaria e quando chegou a minha vez disse-me a menina enfermeira que a minha vacina só vai ser administrada em 2027! Ou seja, desde 2016 (engraçado, desde que entrou a geringonça) que as vacinas contra o tétano passaram a ser administradas de 20 em 20 anos! Só para os maiores de 65 anos é que continua a ser de 10 em 10 e também a primeira dose que também é aos dez anos. Ou seja, fiquei sem a vacina que SÓ e apenas SÓ serve para nos protecer contra infeções. Como podem ver continua tudo "all rigth" no reino dos kamaradas troskistas leninistas. Já é tempo de começarem a habituar-se a morrer por falta de vacinas! Também não são mais que os outros que já se habituaram a morrer queimados e a receber uma esmola de indemnização!
  • Orabem!
    26 jan, 2018 do cemitério 12:15
    Mais uma vez escrevi para o boneco. A falta de respeito pela liberdade de expressão é a melhor marca da R. Renascença.
  • É isto é!
    26 jan, 2018 do cemitério 11:05
    É só incompetentes nestes governos. Esta democracia está toda deturpada, mudam-se os governos mas os incompetentes aparecem sempre, ficando tudo igual ou ainda até fazem pior. Quem sofre com isto é o povo. Depois dizem, ah mas o povo é que votou, pois votou, mas onde estão os políticos bons nestes partidos? Ou são as carcaças velhas do costume, autênticos parasitas, que nunca fizeram nada de bom por este país, ou ainda alguns que são desconhecidos mas que entram depois para os cargos a convite dos amigos sem qualquer competência, indiferentes aos problemas e disfarçando que está tudo bem, mas tudo às vezes pior, como o caso deste marmelo que ocupa o cargo de ministro da saúde, mas que depois sai-se com esta " quero lá saber que fechem todos os blocos de partos do país" Isto é o cumulo de alguém que representa a saude no seu país. É como se esteja borrifando para todos aqueles que fazem parte ou precisam dos serviços de saúde. Depois como podem ter estes partidos políticos credibilidade? Antes das eleições são todos uns santos e prometem mundos e fundos, mas depois nos pelouros é o que vê! HIPÓCRITAS! INCOMPETENTES! TACHISTAS! MENTIROSOS! (....)
  • João
    26 jan, 2018 Lx 09:17
    Os únicos bem pagos neste sector são os medíocres e incompetentes do gestores, pior é o Ministro da Saúde permitir que a vergonha persista. MEDIOCRES

Destaques V+