22 jan, 2018 - 06:47 • Susana Madureira Martins
Os deputados socialistas reúnem-se esta segunda e terça-feira em Coimbra em jornadas parlamentares e um dos temas que irão debater – a transparência no exercício dos cargos públicos – tem causado a maior divergência entre as mais altas figuras do partido.
Entre os deputados com reservas sobre os projectos apresentados pela direcção da bancada está a própria secretária-geral adjunta socialista, Ana Catarina Mendes, bem como Isabel Moreira e Maria Antónia Almeida Santos.
As dúvidas em torno dos projectos têm a ver com a eventual deriva populista que a discussão possa trazer fora da esfera política ou que o tema seja usado como arma de arremesso contra os partidos políticos.
A direcção da bancada não cede e o líder parlamentar, Carlos César, tem respondido que o problema da transparência não se resolve ignorando o tema, nem ele aumenta só por se falar dele.
A sessão de terça-feira, que vai ser aberta à comunicação social, poderá ser animada se as divergências surgirem mais uma vez.
Alojamento local
Outro tema que tem dividido a bancada do PS e dirigentes nacionais é o do alojamento local. E, neste caso, a divergência tem protagonistas ao mais alto nível.
Por um lado, a direcção da bancada parlamentar do PS, por outro o primeiro-ministro, o presidente da Câmara de Lisboa e alguns deputados socialistas.
Em causa está o projecto apresentado em Maio do ano passado, que permite aos vizinhos vetarem o uso de casas para alojamento local. Carlos César, o líder parlamentar, deu sempre o aval à proposta dos seus vice-presidentes de bancada –Filipe Neto Brandão e Carlos Pereira – mas contra a opinião de Fernando Medina, de António Costa e de deputados como Ana Catarina Mendes ou Sérgio Sousa Pinto, todos por considerarem que a proposta prejudica um negócio rentável para os proprietários de imóveis.
O projecto foi apresentado numas jornadas parlamentares em Bragança e o PS vai para as jornadas parlamentares em Coimbra, que decorrem esta segunda e terça-feira, com este caso mais ou menos remendado, já que Carlos César admitiu, entretanto, alterações ao diploma, negando, porém, que se trate de um recuo e que o que está a ser preparado é uma formulação diferente do diploma, apostando na fiscalização, conciliando os interesses de todas as partes.
Autoeuropa
Há uma outra divergência entre socialistas de que não se tem falado, mas que foi visível e audível há uns meses em torno da Autoeuropa e que ocorreu em pleno regresso político após as férias de Verão, em Setembro.
Tivemos, por um lado, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, no terreno do PCP na festa do Avante, a mostrar-se convicto de que as negociações entre a administração da Autoreuropa e os trabalhadores iam “correr bem” e que iria chegar-se a acordo.
O governante quis sobretudo dar razão quer aos trabalhadores, quer à administração, argumentando que ambas as partes estavam a defender a sua posição.
Por outro lado, tivemos uma espécie de reacção a estas declarações de Pedro Nuno Santos por parte da secretária-geral do PS, Ana Catarina Mendes, numa rara subida de tom dizendo que o que se tem assistido na Autoeuropa é uma “guerra partidária”, referindo-se implicitamente a uma guerra de poder sindical dentro da empresa entre PCP e Bloco de Esquerda.
O certo é que até agora a empresa não conseguiu chegar a acordo com os trabalhadores e mantém-se o fantasma de deslocalização levantado em Setembro pela secretária-geral adjunta do PS, que, de resto, é deputada eleita por Setúbal, distrito onde está localizada a Autoeuropa, na vila de Palmela.