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Faróis, um museu com entrada gratuita

12 jan, 2018 - 16:00 • Maria João Costa

Em 2017, quase 74 mil pessoas visitaram os faróis portugueses. Em Paço d’Arcos, há um museu com a história destes marcos que iluminam a costa nacional. A visita é gratuita.

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Santa Neto é faroleiro “há mais de 20 anos”. O apelido diz mais sobre si, porque também o seu avô era faroleiro. “Sinto-me em casa”, explica ao receber-nos no Núcleo Museológico dos Faróis, em Paço D’Arcos. Ele é um dos guias que faz as visitas gratuitas neste espaço aberto ao público todas as quartas-feiras à tarde e nos primeiro e terceiro domingos de cada mês.

No edifício de frente para o Tejo, situado na Direcção de Faróis, encontramos um espólio que conta a história dos faróis em Portugal. Mal entramos numa das duas salas que compõem o museu, percebemos que todas as peças brilham como se fossem novas. “Estão restauradas” explica-nos o comandante Conceição Dias, oficial de relações públicas da Direcção de Faróis.

Embora, hoje em dia, os vinte e oito faróis da costa portuguesa tenham sido modernizados, o sistema de assinalamento marítimo “continua a ter a mesma função que tinha”, indica o comandante Conceição Dias.

Esta luz que ilumina a costa portuguesa e que ajuda a guiar os homens do mar começou, contudo, com uma fogueira. Logo na entrada do Núcleo Museológico, “começamos pelas primeiras luzes que existiram, que eram as fogueiras”, mostra-nos o faroleiro Santa Neto.

As fogueiras eram “normalmente acesas pelas esposas dos marinheiros quando eles se aventuravam no mar, para lhes indicar porto seguro. Este sistema de assinalamento marítimo durou vários séculos”, conta Santa Neto, que prossegue a visita organizada de forma cronológica.

“Algumas embarcações ou navios, hoje, têm equipamentos tecnológicos como o GPS e necessitam menos dos faróis. Contudo, mesmo para esses, os faróis nunca falham. Constituem uma redundância para esses sistemas, que têm erros e que podem avariar”, nota o comandante Conceição Dias. Este Capitão de Fragata lembra, no entanto, que “existe uma comunidade muito grande e uma quantidade muito grande de pequenas embarcações que não têm esses sistemas de navegação e para quem os faróis continuam a ter a mesma função que tinham quando foram construídos”.

À medida que a visita avança, encontramos candeeiros de petróleo, usados para garantir a segurança dos homens do mar antes da energia eléctrica, e, mais à frente, várias ópticas. O faroleiro Santa Neto revela que “consoante o número de faces que cada aparelho óptico tinha, assim era a quantidade de relâmpagos que ele iria emitir”.

A luz é uma espécie de “bilhete de identidade dos faróis”, diz Santa Neto, que, ao seu lado, tem uma das maiores ópticas expostas: “É uma ótica hiper-radiante e só existem cinco em todo o mundo.” Em Portugal, há uma ainda em funcionamento, no Farol de São Vicente, em Sagres.

“Devido à sua localização geográfica, o farol tem de ter um alcance luminoso suficientemente grande”, explica este neto de faroleiro, que mostra outra óptica com envergadura superior à da sua altura e que foi retirada do Farol das Berlengas em 1985.

A curiosidade em torno dos faróis portugueses é complementada na segunda sala deste núcleo museológico com um espaço dedicado às famílias dos faroleiros, às suas vivências e à vida dentro de um farol. Aqui, está também exposta a veia poética de alguns faroleiros, palavras em verso inscritas numa fotografia com o Farol do Bugio ao largo da barra do Tejo.

No exterior do Núcleo Museológico, está a ser restaurado o Farol de Sines que, em breve, poderá ser também visitado pelo público que entre nos muros da Direcção de Faróis.

Os 28 faróis nacionais receberam no último ano a visita de quase 74 mil pessoas. O mais procurado foi o da Ponta do Pargo, na Madeira. Os dados foram recentemente divulgados pela Autoridade Marítima, que tutela todo o sistema de assinalamento da costa nacional.

Em Paço de Arcos, o visitante poderá aprofundar o seu conhecimento sobre os faróis. Para visitar este núcleo museológico com entrada gratuita, saiba que está aberto às quartas-feiras entre as duas e meia e as cinco da tarde e aos primeiros e terceiros domingos de cada mês das 10 horas ao meio-dia e meia. As inscrições podem ser feitas através do site da Autoridade Marítima, na secção da Direcção de Faróis

Para ouvir esta visita guiada ao Núcleo Museológico dos Faróis, poderá seguir, esta sexta-feira, o programa Ensaio Geral, da Renascença, depois das 23h00.

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  • Nuno Silva
    17 jan, 2018 Gafanha da Nazaré 22:18
    " Se a luz é o único antídoto contra as trevas, e a terra o único lugar firme perante a insegurança do mar, o farol não pode deixar de ser o símbolo de esperança " Como faroleiro desta magnifica profissão é com enorme alegria e satisfação que me orgulho de mostrar a isencia desta nobre profissão e dar os parabéns a quem ama e dignifica esta nobre profissão ao mostrar e divulgar ao público em geral através dos núcleos musicológicos dos faróis do continente, Madeira e Açores 34000295 Nuno Silva Faroleiro 2ª CLASSE
  • ANS
    16 jan, 2018 Aveiro 19:24
    É um orgulho ver uma obra ao qual participei e tal como os meus antecessores, vejo ter muito bom tratamento e muito bem divulgado. A todo que se esforçam e trabalham para melhorar a história da Classe Faroleiro e Faróis - Bem -haja.

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