10 jan, 2018 - 07:25
Apesar dos planos de contingência definidos para a época de gripe, os administradores hospitalares reconhecem falta de capacidade para uma melhor resposta ao aumento significativo da procura dos serviços de saúde.
“Grande parte da capacidade de decisão está centralizada no Ministério das Finanças e para a contratação de um profissional, mesmo em regime de substituição, é necessária uma autorização expressa, o que leva os hospitais a ter uma dificuldade de reagir em momentos inesperados, como alguém que, por motivo de doença ou licença de maternidade, tenha de ser substituído”, explica à Renascença O presidente da associação que reúne os responsáveis pela gestão dos hospitais (Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares).
Alexandre Lourenço lembra que a maioria dos doentes que chega às unidades de saúde nesta fase são idosos, em situação débil, e com necessidade de internamento urgente.
A resposta que os hospitais estão a dar é a melhor possível face às actuais circunstâncias, diz, mas há que encontrar soluções.
“Nas substituições – não estamos a falar de novas contratações – existe um nível de centralização dos Ministério das Finanças que dificulta a capacidade de acção dos hospitais. Temos vindo a apresentar soluções para esta matéria e aguardamos uma resposta a essas propostas”, refere.
Além disso, a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares pretende entregar no Verão, ao Governo, um plano para alterar o modelo de financiamento dos hospitais e melhorar a forma de organização das unidades de saúde.
O projecto, designado "3F – Financiamento, Fórmula para o Futuro", pretende dar solução às restrições orçamentais, à falta de autonomia das unidades e ao desperdício gerado pelo modelo de prestação de cuidados actual, identificados como os principais obstáculos ao bom funcionamento do sistema de saúde em Portugal.
Para tal, o projecto vai juntar peritos nacionais, cuja primeira reunião vai decorrer esta quarta-feira em Lisboa.
Até ao Verão, será elaborado um documento técnico com propostas, sendo depois as instituições do Serviço Nacional de Saúde convidadas a testar o modelo em pelo menos uma unidade, que funcione como projecto piloto.
"Hoje ainda existe muita descontinuidade de cuidados”, afirma Alexandre Lourenço à agência Lusa. “O sector da saúde é talvez o mais cristalizado. É necessário promover uma alteração em que a experiência do doente seja valorizada. Temos de perceber como é que o financiamento pode promover essa alteração", defende ainda.
O sistema de saúde português usa geralmente a tecnologia mais avançada, seja em medicação ou em dispositivos médicos, mas "o modelo de organização está muito longe de ser sofisticado", sublinha.