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Campeã de xadrez recusa jogar na Arábia Saudita para não se “sentir uma criatura secundária”

27 dez, 2017 - 10:00

Anna Muzychuk, de 27 anos, assume estar preparada para lutar pelos seus princípios e faltar a este evento.

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"Tudo tem os seus limites". A ucraniana Anna Muzychuk, dupla campeã mundial de xadrez, decidiu não participar no campeonato na Arábia Saudita devido aos vários constrangimentos que seria sujeita enquanto mulher.

Num post no Facebook, partilhado a 23 de Dezembro, a campeã, de 27 anos, explicou o motivo da decisão. “Em poucos dias vou perder dois títulos mundiais, um a um. Apenas porque decidi não ir à Arábia Saudita. Por não jogar com as regras de outros, por não usar abaya (túnica larga), por não ter de ir acompanhada à rua, e finalmente por não me sentir uma criatura secundária”, lê-se.

Na imagem partilhada, Anna surge com as duas medalhas recebidas o ano passado. “Há exactamente um ano ganhei estes dois títulos e era a pessoa mais feliz no mundo do xadrez, mas agora sinto-me muito mal. Estou preparada para lutar pelos meus princípios e faltar a este evento, onde, em cinco dias, esperava ganhar mais do que numa dezena de competições”, assume a campeã, lembrando ainda que a sua irmã, Mariya Muzychuk, dois anos mais nova, também lhe seguiu o exemplo.

Esta publicação é usada para marcar uma posição, demonstrando as diferenças existentes entre os vários países, no que toca às mulheres. “Tudo isto é irritante, mas o mais perturbador é quase ninguém se importar realmente. Este é um sentimento amargo, mas ainda não é o que vai mudar a minha opinião e os meus princípios. O mesmo vale para a minha irmã Mariya — e estou muito feliz por partilharmos este ponto de vista. E sim, para aqueles poucos que se importam — vamos voltar!”

Em Novembro, quando Anna soube do campeonato na Arábia, marcou a sua posição, defendida agora. “Primeiro Irão, depois Arábia Saudita… Pergunto-me onde serão organizados os próximos campeonatos mundiais femininos. Apesar do recorde de títulos, não vou jogar em Ryad, o que significa perder dois títulos de campeã mundial. Para arriscar a tua vida, para usar abaya o tempo todo? Tudo tem os seus limites e os véus no Irão já foram mais do que suficientes”.

A publicação desta semana já foi partilhada mais de 6 mil vezes e são muitos os comentários de apoio às irmãs.

Comentários
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  • CAMINHANTE
    27 dez, 2017 LISBOA 16:34
    Uma atitude louvável. Andam pela Europa algumas forças que se consideram de "progressistas" sempre muito preocupadas com a condição da mulher ( até se percebe) e com outras situações menos gravosas (na realidade em que estamos inseridos), que, estranhamente, mantêm um silêncio e uma "cegueira" gritantes perante a questão da condição da mulher dentro do Islamismo ( assim como da inexistência de Democracia nos Países dessa confissão Religiosa) . Mistérios deste Mundo ...
  • Emanuel Teixeira
    27 dez, 2017 Sintra 13:05
    Uma mulher de carácter, sem dúvida, E coerente, contrariamente às mulheres que também se casam pela Igreja Católica, legitimando assim uma instituição que não aceita mulheres nos seus lugares dirigentes, que proclama a mulher como sendo inferior ao homem. Sim, as mulheres portuguesas que se casam pela igreja católica, são igualmente cúmplices de uma instituição profundamente machista!

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