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​Presépio de Santana de Cambas

Um artista chamado António Costa. “De uma lixeira faço um Ikea”

26 dez, 2017 - 18:26 • Rosário Silva

O pedreiro decidiu dar asas ao seu talento depois de visitar o presépio do Vaticano.

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Tem 50 anos e é pedreiro de profissão na Câmara de Mértola. Nas horas livres, empresta as mãos que trabalham os tijolos e o cimento, à delicada arte de trabalhar diversos materiais transformando-os em figuras da Natividade.

António Costa começou cedo, muito cedo, pelos campos da sua terra, Santana de Cambas, a pouco mais de uma dezena de quilómetros da sede de concelho, Mértola.

“Quando era pequenino andava por aí, nos campos, e de tudo fazia imagens, com ramos e até com barro”, conta à Renascença, no local emprestado pela Casa do Povo de Santana para expor o presépio que construiu com figuras em tamanho real.

É o terceiro ano que dá a conhecer este seu talento, apresentando ao público um trabalho de dimensão considerável, pensado e construído ao longo de um ano. O espaço remete para um ambiente de reflexão, conjugado com a pouca iluminação, o barulho da água que sai da fonte, os animais que andam pelos campos e a musica de fundo que adoça a audição.

“Levei dois meses e meio a montar toda a estrutura”, refere, mas desde o início do ano “comecei a fazer os moldes”.

O ambiente de Belém recriado pelo artista tem a particularidade de usar apenas materiais recicláveis. “Só as sacas de ração são 2.400, para parecer uma verdadeira gruta”, revela António Costa. “É tudo cosido à mão, com muita paciência, também com pregos e agrafos”, acrescenta.

Para as imagens utiliza ferro, arame, garrafas de plástico, madeira e aproveita, para vestir as figuras, “panos dos sofás velhos, tapetes, colchas, cortinados”.

Um “mundo” de materiais que o leva a afirmar, em jeito de brincadeira, que “de uma lixeira faço um Ikea”.

A verdade é que esta paixão foi sendo contida ao longo dos anos, até 2001, altura em que visitou o presépio da Praça de S. Pedro, em Roma.

“Fiquei encantado” e pensou logo, em fazer um presépio assim dando a conhecer as suas capacidades e talento ao mundo.

Com esta dimensão é o primeiro conjunto que faz, mas António Costa já está, na sua cabeça, a pensar no do próximo ano.

“No final desmancho tudo e fico com muita penas, mas ao mesmo tempo faço tudo novo no ano seguinte e nada é igual”, constata para logo a seguir declarar: “Sou um idiota, tenho ideias e ponho-as em prática.”

António Costa tem poucos apoios e reconhece que gasta uma boa parte do seu salário nesta sua ocupação. “Tenho alguns apoios da câmara e da junta de freguesia, mas são muito poucos”, adianta.

“Se faço muito com pouco, faria mais ainda se tivesse mais apoios”, acredita.

O ano passado, passaram pelo presépio 4.200 pessoas, este ano já “tivemos cerca de 2.000, com os nossos vizinhos espanhóis a visitarem em grande numero devido à proximidade da fronteira”.

Com 40 imagens em tamanho real, Santana de Cambas (Mértola) recebe a “gruta de Belém”. Pode ser visitada até dia 6 de Janeiro, todos os dias, com entrada gratuita.

Comentários
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  • sem mais
    26 dez, 2017 lisboa 23:51
    Pedro...tal e qual...esse devia de aprender com este humilde Antonio Costa a criar com pouco e fazer efectivamente uma obra digna de se ver...tal como esta
  • Pedro
    26 dez, 2017 Porto 22:08
    Conheço um Antônio Costa que de um país fez uma lixeira.

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