17 dez, 2017 - 22:20 • Susana Madureira Martins
Sentado à cabeceira de uma mesa oval do Pavilhão Desportivo Carlos Lopes, em Lisboa e depois de ter cumprimentado todos os jornalistas presentes na sala, Pedro Santana Lopes apresentou a lista da comissão nacional da candidatura a líder do PSD onde constam antigos companheiros e ex-ministros como Álvaro Barreto, Rui Gomes da Silva ou Rui Machete e ainda dois ex-assessores de Cavaco Silva em Belém, o jornalista Fernando Lima e Ana Zita Gomes.
Foi visivelmente satisfeito que Santana Lopes respondeu à pergunta sobre o apoio de Hugo Soares, actual líder parlamentar do PSD, à sua candidatura. E aproveitou para, sem nunca nomear, deixar um remoque a Rui Rio, adversário nesta corrida à liderança do partido, dizendo que valoriza tanto este apoio “como a outra candidatura valorizaria se o tivesse”, acrescentando que “ele é, sem dúvida, um talento com fogacidade e quem me dera ter a fogacidade desses 34 anos”, rematando que ficou “sensibilizado”.
A sessão de esclarecimento aos jornalistas serviu para apresentar a proposta de programa, ainda não é o programa oficial, Santana disse mesmo que este não é o seu programa, esse só será apresentado na convenção da candidatura que ficou agendada para o dia de Reis, 6 de Janeiro, também no Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa.
Com eleições internas para a liderança marcadas para 13 de Janeiro, o ex-primeiro-ministro apresentou-se “convencido, sinceramente” que vai unir o partido para ganhar 2019.
Santana Lopes apresenta-se como alternativa à maioria de esquerda que governa o país e propõe, por exemplo, uma política fiscal “ousada”, e quer concentrar-se no IRC. Sobre esta matéria o candidato a líder do PSD garante que não quer “sacrificar tudo ao investimento”, mas considera essencial criar “condições de confiança para o investimento”.
Consensos alargados sobre obras públicas sim, mas não já
Têm sido sucessivas as vezes em que o primeiro-ministro António Costa tem falado sobre consensos alargados, por maioria de dois terços no Parlamento, ou seja, com acordo do PSD, para definir as grandes obras públicas.
A proposta de programa da candidatura de Santana Lopes prevê, precisamente, a obtenção de um “consenso alargado entre todas as forças políticas representadas no parlamento sobre as grandes obras públicas a realizar nas próximas décadas”. O texto prevê, mas, se o candidato for eleito presidente do PSD, esse acordo só irá acontecer após as eleições legislativas de 2019.
O ex-primeiro-ministro considera que “é desejável que aconteçam” esses acordos, mas a “parte final das legislaturas é sempre má conselheira para acordos entre as forças que estão no governo e as que estão na oposição”. E isto serve tanto para o tema das grandes obras públicas como para o da descentralização ou para uma eventual revisão constitucional.
221 medidas ou “Um Portugal em ideias”
A proposta de programa de Santana tem como título “Um Portugal em Ideias” e oito pessoas tentaram, para além de Santana Lopes, explicar em duas horas e meia e sectorialmente, as 42 páginas do livro que foi entregue aos jornalistas. Entre essas pessoas estavam os actuais deputados Teresa Morais e Miguel Santos ou Tânia Viangre, investigadora da Fundação Champalimaud, ou ainda Paulo Cunha, presidente da Câmara Municipal de Famalicão e Telmo Faria, coordenador do texto.
Para já, não existe uma promessa ou uma medida específica, mas ideias de fundo sobre áreas como a educação, a segurança social, a saúde, sector onde Santana diz querer por exemplo, “alargar os cuidados continuados e melhorar os cuidados paliativos no final de vida”.
Questionado pelos jornalistas, o candidato posicionou-se contra a despenalização da eutanásia, mas disse que não se sente “chocado”, nem com “repulsa” pela proposta do também social-democrata Luís Montenegro que à Renascença defendeu a realização de um referendo.
Na proposta de programa fala-se ainda de uma reforma do sistema político, com Santana Lopes a prever, por exemplo, “desonerar progressivamente o Estado com o financiamento dos partidos” e privilegiar os “círculos uninominais conjugados com o círculo nacional proporcional”, voltando aqui a uma velha questão discutida há vários anos pelos vários partidos políticos.
A apresentação decorreu num cenário à americana, com a mesa oval onde estava Santana Lopes e os jornalistas a ter de um lado e de outro um conjunto de cadeiras onde estavam sentados muitos elementos da Juventude Social Democrata (JSD) a assistir a esta sessão. No final, o candidato a líder do PSD fez exactamente o que fez inicialmente: cumprimentou um a um os jornalistas presentes e desatou a tirar selfies e fotografias com os jovens da JSD.