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Actores com deficiência mental criam peça teatral inspirada nas suas memórias

16 dez, 2017 - 10:55

Criado em 1986, o projeto Crinabel Teatro, que habitualmente conta com um elenco de 12 elementos, já fez mais de 50 produções teatrais, umas com processos criativos semelhantes e outras baseadas em obras de dramaturgos.

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As memórias de 16 actores com deficiência mental ganham nova vida em palco, numa peça de teatro criada em conjunto durante este ano, uma co-produção da Crinabel, em Lisboa, e da Cercisiago, em Santiago do Cacém.

A azáfama nos bastidores do Auditório Municipal António Chainho, em Santiago do Cacém, no distrito de Setúbal, é notória durante os minutos que antecedem o ensaio geral da peça "De Olhos Fechados", uma criação original conjunta dos elementos que compõem os elencos do projeto Crinabel Teatro e da Arca dos Sonhos, da Cercisiago.

É o último ensaio antes da estreia, realizada esta semana. O cenário está pronto, alguns actores preparam-se para entrar em cena, outros colocam-se nas posições iniciais em palco, tiram-se as últimas dúvidas com o encenador, faz-se silêncio, a sala escurece e sobressaem focos de luz que incidem nos espaços onde, momentos depois, começa a viagem pelas memórias dos actores.

"O espetáculo basicamente é uma recolha de memórias que nós fomos fazendo com os intérpretes, de memórias afetivas e de memórias mais sensoriais e da relação que temos com essa ideia de memória", explica à agência Lusa, após o ensaio, Marco Paiva, coordenador artístico do projeto Crinabel Teatro.

Brincadeiras da infância, momentos românticos, dança e também peças de teatro que já interpretaram no passado são algumas das memórias que revelam ao público em palco ao longo de 40 minutos.

As contribuições de cada um para o processo criativo não se medem, faz questão de dizer Marco Paiva, que considera "tão importante uma reflexão mais profunda sobre um texto ou sobre uma ideia como às vezes um movimento, que é muito simples, mas pode ser a chave para desbloquear uma cena".

"Cada um, à sua escala, é importante no processo criativo, sem estar a criar barreiras morais ou intelectuais de que é preciso atingir um determinado patamar de compreensão, porque às vezes a compreensão não é explicável, é uma sensibilidade que acontece perante as coisas", defende.

Conciliar vontades e diferenças entre todos para concretizar um projecto como este "é um desafio", reconhece Mónica Duarte, coordenadora da Arca dos Sonhos, que enaltece o "trabalho contínuo desenvolvido ao longo do ano" e destaca a importância de iniciativas como esta para a "integração social".

"É uma oportunidade para subirem a um palco e mostrarem aquilo que sabem fazer de melhor e de partilharem aquilo que fazem connosco e o trabalho que fazem na instituição", acrescenta, falando sobre os actores, todos adultos, com idades entre os 20 e os 50 anos.

A Arca dos Sonhos foi criada no ano 2000, com origem num projecto que começou com a preparação de uma peça para a festa de Natal da Cercisiago, e que continuou desde então, com espectáculos a subir ao palco do Auditório Municipal António Chainho, mas também do Centro de Artes de Sines e de escolas da região.

A co-produção, que estreou na quarta-feira passada, em Santiago do Cacém, volta à cena no início de 2018 na zona do litoral alentejano, havendo também a expectativa de ser apresentada em Lisboa.

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