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Maria do Rosário Pedreira receia "mais modificações" ao acordo ortográfico

05 jan, 2013 • Maria João Costa

Editora e escritora diz que há mais gente a ler maus livros e defende aposta nos jovens valores. "Quando saíram as primeiras obras do Kafka, venderam 400 exemplares, mas hoje ainda lemos o Kafka", sublinha.

O Brasil pode estar a preparar alterações mais profundas ao Acordo Ortográfico. A suspeita é levantada por Maria do Rosário Pedreira, em declarações ao programa “Ensaio Geral” da Renascença, gravado esta sexta-feira na Livraria Ferin, em Lisboa.

“O Brasil recua para olhar melhor para a coisa, mas tenho impressão que, no fim, vai ser pior ainda. Ou seja, vão ser feitas ainda mais modificações”, adverte a editora do grupo Leya.

Responsável pela descoberta de nomes como os dos escritores Valter Hugo Mãe e José Luis Peixoto, Maria do Rosário Pedreira diz que não concorda com a maioria das alterações propostas à grafia portuguesa.

A também escritora, que lançou recentemente a sua poesia reunida, diz que não vê grande vantagem económica no Acordo Ortográfico.

"Há mais gente a ler” livros "sem qualidade"
Para Maria do Rosário Pedreira, nos dias de hoje há “muito mais gente a ler”, mas essas pessoas “não estão a ser formadas na leitura” e lêem “produtos de grande consumo, sem qualidade”.

“Estão a ler um bocadinho por entretenimento, mas são coisas que não enriquecem o ser humano, não o fazem pensar, não o farão reflectir, tomar posições e eu acho que a literatura é a melhor maneira de as pessoas, por um lado, se conhecerem a si próprias, mas também conhecerem os outros e as mentalidades dos povos de todo o mundo”, argumenta.

Apesar das leis do mercado, Maria do Rosário Pedreira defende que os editores não podem deixar de publicar os jovens autores desconhecidos.

A editora do grupo Leya, que revelou à literatura nacional nomes como os de Nuno Camarneiro, vencedor do último Prémio Leya, ou Valter Hugo Mãe, que venceu em 2012 o Grande Premio PT de Literatura, diz que continua apostada em revelar novos valores.

“É muito mais fácil fazer dinheiro com um livro de um apresentador de televisão do que de um escritor jovem e desconhecido, mas eu acho é que não podemos deixar de publicar o escritor jovem e desconhecido só por causa do dinheiro. Quando saíram as primeiras obras do Kafka, venderam 400 exemplares, mas hoje ainda lemos o Kafka”, sublinha Maria do Rosário Pedreira.

Autora de letras para fados, Maria do Rosário Pedreira considera que Amália Rodrigues é um exemplo de força, trabalho e perseverança que deve servir como paradigma para as gerações mais jovens.

A escritora, que lançou recentemente a biografia da fadista escrita para um público infanto-juvenil, diz que, face à actual crise, as novas gerações devem por os olhos em Amália.

No "Ensaio Geral" desta semana, o presidente do Centro Nacional de Cultura, Guilherme d'Oliveira Martins, fala do trabalho Maria do Rosário Pedreira.

A próxima convidada do “Ensaio Geral” na Livraria Ferin, em Lisboa, a 1 de Fevereiro, será a autora de “O Retorno”, Dulce Maria Cardoso.

O “Ensaio Geral” é um programa com edição de Maria João Costa, que pode ouvir na Renascença às sextas-feiras, pelas 23h30, ou a qualquer altura na Internet.