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A conversa entre Valter Hugo Mãe e Ana Bacalhau

22 nov, 2014 • Maria João Costa

O Ensaio Geral regressou à Livraria Ferin e entrevistou o escritor Valter Hugo Mãe e a voz da Deolinda, Ana Bacalhau

Falaram de livros, de palavras, de música mas também da actual situação do país e da relação com Angola. O escritor Valter Hugo Mãe e a vocalista da Deolinda, Ana Bacalhau foram os convidados do programa Ensaio Geral que regressou às entrevistas ao vivo, na Livraria Ferin, numa parceria com a Booktailors.

Ambos os convidados têm em comum o facto de cantarem, porque também Valter Hugo Mãe é vocalista do grupo "Governo". Sobre as palavras e a força que têm em livro ou numa música, o escritor disse que está à espera que as palavras lhe “concedam uma alma”, segundo o autor de “A Desumanização”, as palavras são “o único modo” que encontrou para se “sentir pertença do mundo e achar que faz sentido”. Valter diz mesmo que vive “obstinado com elas, porque talvez seja o único modo que tenho de me aprofundar ou pensar melhor acerta do que sou.”

Ana Bacalhau que há três anos cantou “Parva que sou” nos Coliseus do Porto e de Lisboa e incendiou a plateia explicou que “aquilo que a música conta continua a ser actual infelizmente e se calhar em vez de falarmos de uma geração, falamos de várias gerações”. A vocalista da Deolinda concluiu que “Foi um momento único e irrepetível, momento em que transcendeu a musica e as palavras”  

Valter Hugo Mãe confessa a sua inveja por Ana Bacalhau e pelo retorno que um  musico em palco têm da sua arte por parte do público. O escritor diz que, na era tecnologia “gostaria de disciplinar os meus leitores, chamar à atenção para determinadas frases”, as frases que acha que são as melhores recolhas de que foi capaz.

Numa conversa perante uma livraria cheia, Ana Bacalhau disse que conta histórias do dia-a-dia nas suas músicas. Já Valter Hugo Mãe falou do seu novo livro infantil “ O paraíso são os outros”, editado pela Porto Editora. O escritor explicou que: “Este livro quase me foi oferecido por ele mesmo. É algo em que acredito tanto que virou uma história”. “A justificação para a existência está nos outros” disse e falou de identidade colectiva. “Uma parte da minha identidade está nas pessoas que me rodeiam”.

Ana Bacalhau que recordou os tempos em que era arquivista do Ministério das Finanças e que “cantava no trabalho”, falou do seu actual projecto. “15” é o espectáculo que leva a cena no placo do Teatro Virgínia em Torres Novas  em que interpretará musicas que a marcaram entre a sua adolescência e o momento em que se tornou cantora profissional com Deolinda.

Falando sobre a importância da música na sua vida, Valter Hugo Mãe disse que “a música é muito impositiva” e acrescentou “acho que não compreenderia nada sem essa beleza que paira e que ao mesmo tempo nos emerge. A música é a verdadeira arte que nos habita, com o som”  

    Interrogado por Ana Bacalhau sobre se ouve música enquanto escreve, Valter Hugo Mãe explicou que ouve instrumentais. E sempre Bach, confessou sublinhando que alguém lhe disse que “Bach era até hoje a única prova da existência de Deus.” E disse que não sabia “se não haverá outras, mas seguramente, Bach sozinho era capaz de justificar a existência de Deus”.

Sobre Angola, onde nasceu, Valter Hugo Mãe disse que “muitas das coisas que acontecerão com a possibilidade de Angola comprar património, empresas na Europa e em Portugal, muito do que ai vai acontecer está errado.” Mas conclui que a “relação de Portugal e Angola poderá não ser a melhor, mas há um símbolo de necessidade de respeito mútuo e de paridade que fica criado”.