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Empresários não devem pedir dinheiro para "tapar buracos financeiros"

27 jan, 2015 • José Pedro Frazão

O antigo ministro socialista Vera Jardim e o vice-presidente do PSD, José Matos Correia, debateram no "Falar Claro" da Renascença os impactos do programa de compra de divida pública anunciado pelo BCE e o papel dos bancos no sucesso das medidas anunciadas por Mario Draghi.

Empresários não devem pedir dinheiro para "tapar buracos financeiros"
O antigo ministro socialista Vera Jardim e o vice-presidente do PSD, José Matos Correia, debateram no "Falar Claro" da Renascença os impactos do programa de compra de divida pública anunciado pelo BCE e o papel dos bancos no sucesso das medidas anunciadas por Mario Draghi.

Os comentadores do programa "Falar Claro" da Renascença concordam com a necessidade de maior exigência por parte dos empresários nos projectos que apresentam a financiamento da banca.

O vice-presidente do PSD, José Matos Correia, diz ter informações do sector de que "os bancos têm liquidez, mas, com frequência, as empresas portuguesas não apresentam projectos suficientemente credíveis para que os bancos possam financiá-las. Se o problema é este, então é mais complicado."

O antigo ministro socialista Vera Jardim, com ligações ao banco espanhol BBVA, dá razão ao seu parceiro de debate, que esta semana substituiu Morais Sarmento no "Falar Claro". "É preciso que os empresários peçam dinheiro para coisas novas, não para tapar os buracos que têm nas empresas. Porque é muitas vezes isso que sucede. Há uma descapitalização grande das empresas portuguesas, sempre tivemos esse problema desde há muito tempo. Faltam bons projectos."

O programa anunciado pelo Banco Central Europeu (BCE) tem como objectivo libertar liquidez no mercado, através da compra de dívida pública detida em larga medida por investidores na área financeira.

"É evidente que este é um passo arrojado, que pode contribuir para que esse dinheiro chegue mais facilmente à economia. Mas não é só por esse passo que ele vai chegar. É preciso que a economia crie confiança. E que apareçam projectos que gerem confiança também na própria banca", sustenta Vera Jardim.

Flexibilidade e sensibilidade
O vice-presidente do PSD deixa cair uma farpa partidária. "O plano Draghi não recorre directamente ao financiamento dos Estados que permitiria um política orçamental expansionista, que era o que o Partido Socialista queria e que nos levou à situação que nos levou."

"O que o plano Draghi estabelece - e bem - é um financiamento à economia que passa pelos bancos.  Não há outra maneira de o fazer. Somos economias de mercado, são os bancos que têm essa tarefa", diz Matos Correia.

Vera Jardim responde: "O PS falava, precisamente, na compra de dívida soberana no mercado secundário e não aos Estados. O primeiro-ministro, que responde pelo PSD, disse que era contra isso, que não concordava porque isso era fazer com que o BCE exercesse um papel de 'monetização'."

O antigo ministro da Justiça argumenta que a Europa tem um sério problema de dívida. "Agudíssimo no caso da Grécia e agudo em Portugal, Espanha, Itália, Irlanda, na França também, embora menos", observa o socialista, que pede tolerância às instituições comunitárias. "Teremos tudo a ganhar com alguma flexibilidade das instituições europeias, sobretudo no que diz respeito à dívida. Temos que aproveitar também esta nova sensibilidade europeia do senhor Juncker, do senhor Draghi, para poder também ter algum ganho de causa".

A vitória do partido antiausteridade Syriza na Grécia foi outro dos temas em debate no "Falar Claro" desta semana.