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Combustíveis

“Não há dinheiro em Portugal para continuar esta loucura”

27 mar, 2012 • José Pedro Frazão

Na última década, a factura aumentou cerca de 8 mil milhões de euros por ano, afirma Carlos Pimenta em entrevista à Renascença.

“Não há dinheiro em Portugal para continuar esta loucura”
O dinheiro gasto todos os anos com a importação de combustíveis dava para baixar o IVA para 13% ou multiplicar por dez os subsídios de Natal e férias retirados aos funcionários públicos e pensionistas. As contas são feitas por Carlos Pimenta, o entrevistado desta semana do programa “Terça à Noite” da Renascença. O ex-secretário de estado do ambiente diz ainda que algo está errado quando em Portugal pagamos mais pelo gás e pelos combustíveis do que em Espanha.

O dinheiro gasto todos os anos com a importação de combustíveis dava para baixar o IVA para 13% ou multiplicar por dez os subsídios de Natal e férias retirados aos funcionários públicos e pensionistas.

As contas são feitas por Carlos Pimenta, o entrevistado desta semana do programa “Terça à Noite” da Renascença, segundo o qual, na última década, a factura paga por Portugal aumentou cerca de 8 mil milhões de euros por ano.

“Não há dinheiro em Portugal para continuar esta loucura de importação de petróleo, de gás e de carvão para queimar, quando temos tantos recursos naturais em Portugal: a água, o vento, o Sol, a biomassa, a geotermia, o biogás, amanhã, as ondas, que a nossa engenharia e o nosso engenho são capazes de aproveitar”, defende o antigo o secretário de Estado do Ambiente e das Pescas.

Sobre as diferenças de preços dos combustíveis entre os dois países ibéricos, Carlos Pimenta considera que “alguma coisa está errada” quando em Portugal a gasolina é mais cara e a electricidade mais barata do que em Espanha.

“Se a Espanha compra petróleo e gás natural no mesmo mercado e ao mesmo preço do que compra Portugal e consegue passar ao consumidor o gás, o petróleo, o gasóleo, a gasolina mais baratos do que em Portugal, significa que o Estado tem menos impostos sobre esses produtos e que o mercado é mais concorrencial.”

Formação dos preços dos combustíveis? “Não consigo perceber”
Já é possível saber de onde vem a electricidade, mas não se consegue entender a formação dos preços dos combustíveis ou as razões de termos o gás natural mais caro da Europa, acusa o antigo eurodeputado.

Nesta entrevista à Renascença, Carlos Pimenta estranha que, quando o preço do barril de Brent desce, a gasolina consumida em Portugal desce muito mais lentamente do que quando é registada uma subida do petróleo em Londres.

“Não há rendas nas eólicas”
O especialista em energias renováveis considera que o relatório que fala em rendas excessivas nas eólicas é “contraditório entre si” e uma “colagem” de anexos “cada um feito pela sua equipa”.

O documento, sublinha, mostra que “não há rendas nas eólicas em Portugal”.

“Tem anos em que a rentabilidade é negativa e o máximo de rentabilidade que tem em dez anos é 1,2% acima do custo do dinheiro. Se pegasse no mesmo dinheiro e o pusesse a render, ia ter mais do que 1%”, argumenta.

“Balde da energia está roto em Portugal”
Em tempo de austeridade e de cortar “gorduras”, o antigo governante considera que o Estado podia, facilmente, reduzir os gastos em iluminação pública.

“Com medidas simples de mudar lâmpadas, de coisas simples, que se fazem bem, que se recupera o dinheiro depressa, poupava 10% a 15%, 70 a 80 milhões de euros por ano, sem qualquer problema e com obras simples”, sugere.

O especialista em questões energéticas considera que a maioria dos portugueses está desperdiçar electricidade e dinheiro.

Em qualquer loja ou supermercado, argumenta, é possível comprar lâmpadas que gastam cinco a dez vezes menos electricidade que o normal.

“O meu amigo quer ler o jornal, quer cozinhar, porque é que vai gastar dez vezes mais electricidade a cozinhar ou a aquecer-se do que pode gastar, depois a seguir vai-se queixar que a electricidade está cara? O meu amigo está é a gastá-la muito mal”, sublinha.

Carlos Pimenta deixa um alerta. “O balde da energia em Portugal está roto” e, em vez de “zaragatas” sobre a forma de produzir a energia, seja nuclear, térmica ou renovável, “devíamos discutir, em primeiro lugar, como utilizar melhor a energia”.