09 fev, 2011
Abel Mateus acusa o Governo de nada fazer para resolver a falta de concorrência no sector dos combustíveis. Entrevistado no “Terça à Noite”, da Renascença, o antigo presidente da Autoridade da Concorrência diz que não há medidas concretas para resolver a questão.
Abel Mateus:Governo nada faz para resolver falta de concorrência nos combustíveis
“O Estado tem um enorme elenco de políticas em que pode fazer concorrência: quando atribui licenças para a construção de centrais eléctricas, na administração dos portos apenas há um terminal. Todas estas coisas são políticas gerais em que ou o Governo está interessado em fazer concorrência ou sobretudo em reforçar os grandes grupos económicos. [Nos combustíveis], não vi nenhuma medida estrutural e concreta para resolver a questão da concorrência”, disse.
Abel Mateus diz que não percebe o que são combustíveis “low cost” e lança o desafio: se é possível baixar preços que eles baixem para todos. “Não percebo o que são combustíveis low cost, sei é que havia grande concorrência dos postos dos hipermercados e, se calhar, é apenas uma tentativa de entrar nesse mercado. Se é possível baixar os preços, então baixe-se para todos”.
O antigo presidente da Autoridade da Concorrência, o primeiro a assumir aquele cargo, diz que, na actual situação de crise, os cortes nos salários deviam ser acompanhados por uma descida dos preços dos bens que são sujeitos a regulação, como a energia, por exemplo.
“Estarmos a cortar salários e não reduzimos os preços dos chamados bens não transaccionáveis, como a energia, as telecomunicações, do meu ponto de vista, está errado, estamos a dar um tiro no pé. É preciso acompanhar isso de uma redução de preços dos bens que são sujeitos a regulação”.
Sobre as energias renováveis, Abel Mateus critica a “bandeira de Sócrates”, lembra que a energia está mais cara e que nós continuamos a importar o mesmo. Aproveita também para desmentir “poupança energética” que defende o primeiro-ministro.
Nesta entrevista à Renascença, Abel Mateus considera que o antigo governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, subestimou o problema da dívida externa.
Por falar em dívida, este responsável apoia a introdução de limites à dívida e ao défice na própria Constituição.
Já quanto a ajuda internacional, Abel Mateus critica o “papão” criado à volta do Fundo Monetário Internacional e defende que Portugal “teria muito a beneficiar” com a vinda do fundo.
Abel Mateus defende ainda a flexibilização do mercado de trabalho para “facilitar o processo de transferência dos recursos para as empresas mais produtivas”.
Noutro âmbito, o ex-presidente da Autoridade da Concorrência considera que o problema do BPN “já devia ter sido resolvido há muito tempo” e só há duas hipóteses: ou liquidar o banco ou integrá-lo rapidamente noutro banco.