12 jan, 2011
O antigo ministro socialista João Cravinho não tem ilusões e considera que vai ser muito difícil evitar o regresso do Fundo Monetário Internacional (FMI) a Portugal.
Em entrevista ao programa “Terça à Noite”, da Renascença, o actual administrador do Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento (BERD) reconhece a existência de uma “pressão brutal” nesse sentido.
“Ao ponto a que as coisas chegaram, é muito difícil evitar a entrada do FMI. Eu sei que isso chocará muitos portugueses se se vier a dar, sei que convém e devemos fazer tudo para evitar e resolver as coisas pelos nossos próprios meios e no ambiente em que temos estado, mas não ignoro, e é preciso ser muito anjinho e um pouco estúpido para ignorar, que existe uma pressão brutal para que o FMI entre aqui”, afirma João Cravinho.
A tese do Partido Socialista “não tem pés para andar” e “não vale a pena fingir que estamos num mundo cor de rosa ou que se vai resolver amanhã, a situação é extremamente grave”, adverte.
João Cravinho considera que o “grande problema nacional não é o problema das finanças públicas, é o problema de não haver crescimento” e, no actual cenário de endividamento, os portugueses enfrentam um “empobrecimento crescente”.
Cavaco Silva foi “imprudente”
Na opinião do antigo ministro, o Presidente da República e candidato à reeleição nas eleições do próximo dia 23 foi “imprudente” em relação à compra de acções na Sociedade Lusa de Negócios (SLN).
“O presidente da sua comissão de honra, o general Ramalho Eanes, ex-Presidente da República, foi a pessoa que melhor expressou a ideia de que Cavaco Silva foi imprudente”, diz João Cravinho.
“Como é que ele [Ramalho Eanes]o disse? Ele disse: «eu tenho sido solicitado por bancos em geral, que me vêm dar condições de investimento como se eu fosse seu accionista de referência e eu tenho rejeitado sempre, por razões de prudência» E o que é que Ramalho Eanes, sem querer, acabou por dizer: «se eu estivesse no lugar de Cavaco Silva teria recusado»”, conclui.
Para o administrador do BERD, o actual Presidente da República “tem um entendimento canhestro e inaceitável do escrutínio democrático, do funcionamento da democracia, da questão da transparência e da obrigação de responder a todas as questões que nos sejam postas e que tenham alguma razão de ser”.
Cravinho faria “diferente” nas SCUT
Em relação às antigas auto-estradas sem custos para os utilizadores (SCUT), João Cravinho admite que se fosse hoje “faria diferente” e defende o princípio mais abrangente do “beneficiário pagador”.
“Quem mais beneficia das sete SCUT de que sou responsável, excepto de uma, é Lisboa e Vale do Tejo, onde não há nenhuma SCUT”, refere.