28 set, 2011
O presidente da Comissão de Mercado e Valores Mobiliários (CMVM) está surpreendido com as contas da Madeira, admitindo que houve descontrolo orçamental. Defendeu ainda a responsabilização criminal dos políticos por má gestão, à semelhança do que acontecia no tempo de Salazar.
Em entrevista ao programa “Terça à Noite”, da Renascença, Carlos Tavares lembra que, na altura em que Miguel Cadilhe era ministro das Finanças, não era possível esta desorçamentação, porque as contas estavam sujeitas a uma forte disciplina. Por isso, espera que o actual Governo reintroduza mecanismos de controlo e reforce os poderes do Tribunal de Contas.
As contas da Madeira estão a ser auditadas, mas, segundo o presidente da Região Autónoma, Alberto João Jardim, o "buraco" ultrapassa os cinco mil milhões de euros. A Procuradoria-Geral da República abriu entretanto um processo de inquérito ao caso.
Nesta entrevista, o ex-ministro da Economia diz que não consegue imaginar a saída de um país do euro, mas avisa que a actual configuração da moeda única não funciona.
Carlos Tavares reafirma que a crise ultrapassa em muito a Grécia e critica os líderes europeus pela demora na apresentação de soluções e pelo ruído provocado por declarações sucessivas que só penalizam os mercados. Defende, por outro lado, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, por ter admitido um segundo pedido de resgate, caso a Grécia entre em incumprimento.
Na frente interna, o economista considera que a descida da Taxa Social Única (TSU) só faz sentido se for expressiva, acompanhada pelo agravamento do IVA e aplicada a todas as empresas.
Na Renascença, o presidente da CMVM anuncia ainda a criação do Conselho Consultivo para Pequenas e Médias Empresas e Mercado de Capitais, para ajudar as empresas a encontrarem alternativas de financiamento. Carlos Tavares conta que este conselho comece a trabalhar dentro de um mês.
Sobre a banca, o antigo ministro da Economia denuncia a falta de concorrência no sector e critica a contestação dos bancos ao recurso ao Sistema de Indemnização aos Investidores, no caso do BPP. Em causa está a situação de 4100 investidores, considerados elegíveis, que continuam à espera de receber parte do que perderam - um processo que Carlos Tavares espera que se resolva em breve, com a cedência da banca.