Emissão Renascença | Ouvir Online

Terça à Noite

Banca espera plano de pagamento de dívidas do Estado

20 jul, 2011

O presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB) espera que o Estado apresente um plano de pagamento das suas dívidas às instituições bancárias.

António de Sousa, em entrevista ao programa “Terça à Noite” da Renascença, revela que a dívida da administração central, municípios e empresas públicas aos bancos situa-se entre 40 e 50 mil milhões de euros, valor equivalente ao que a banca deve ao Banco Central Europeu (BCE).

O presidente da APB acredita que os bancos não vão precisar de recorrer aos 12 mil milhões de euros disponíveis no plano da “troika” para o sector da banca.

Banca espera plano de pagamento de dívidas do Estado

O responsável lembra que as instituições bancárias só estão a emitir dívida com recurso a garantias estatais porque o Estado ainda não pagou o que lhes deve.

Sobre o corte de “rating” de sete instituições bancárias nacionais realizado pela agência de notação Moody’s, António de Sousa fala num cenário “inédito”.

Considera que os banqueiros, que reagiram com indignação à descida do “rating” da banca, até esperavam uma descida maior, porque historicamente os bancos têm sempre notas piores que a República.

“O histórico seria que, como aconteceu em todas as outras descidas de rating até esta, os melhores bancos ficavam iguais à República ou um nível abaixo. Desta vez aconteceu algo que a maior parte não estaria à espera, porque é inédito”, sublinha.

Spreads do crédito à habitação vão continuar a subir

Os spreads no crédito à habitação vão continuar a subir nos próximos dois ou três anos, até 5%, e as transacções vão continuar a diminuir, prevê o presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB).

Em entrevista ao programa “Terça à Noite” da Renascença, António de Sousa dá como exemplo a Caixa Geral de Depósitos, que esta terça-feira foi ao mercado financiar-se com garantias do Estado e pagou juros e spreads acima do que está a cobrar nos empréstimos à habitação.

“O custo do crédito para o banco a três anos saiu quase a 8%. Ora, o custo neste momento do crédito à habitação ainda está muito abaixo disso. A Caixa pagou de spread em relação à Euribor 4,95%, praticamente 5%, o que significa que está a perder dinheiro cada vez que faz uma operação neste momento.”

Sobre o aumento da entrega de casas ao banco por incumprimento, António de Sousa diz que os bancos estão mais exigentes e a acelerar estes processos e, se a justiça começar a funcionar melhor, o número de devoluções de casas ainda vai aumentar mais.

Mais impostos para a banca, “não”

Relativamente à eventual criação de um imposto para financiar a Grécia, António de Sousa diz que a banca, incluindo a portuguesa, não aguenta mais impostos.

“Não estou a ver onde é que a banca europeia, neste momento, tem essa capacidade financeira, olhando por exemplo para a banca portuguesa, de pagar mais impostos do que aquilo que já paga”, sustenta.

Bancos não pensam despedir

O presidente da Associação Portuguesa de Bancos descarta despedimentos no sector a curto prazo e admite apenas a não substituição dos que se reformam.

“Não me parece de todo, nem me parece que esteja de todo em cima da mesa de nenhum banco fazer despedimentos. Não me parece, sequer, que haja excesso de colaboradores nos bancos para o nível de actividade que neste momento têm”, defende.

“Agora, o que poderá acontecer, e é uma coisa que está a acontecer há anos em Portugal, é nomeadamente em momentos em que não abrem novas agências e, pelo contrário, alguns bancos estão a fechar agências, é natural que progressivamente não substituam pessoas que se reformam, isso é muito possível que aconteça, aliás, não é sequer uma situação nova”, conclui António de Sousa.