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Ministro Poiares Maduro está de passagem. "Nós somos Misericórdias há 500 anos"

22 out, 2013

Presidente da União das Misericórdias mostra-se preocupado com o futuro da coesão social em Portugal, mas garante que não vai faltar apoio à população mais carenciada. Gabinete de Poiares Maduro diz querer ouvir todos, mas ainda não recebeu qualquer pedido das Misericórdias.

O ministro adjunto e do Desenvolvimento Regional, Poiares Maduro, está de costas voltadas para as instituições de solidariedade social, acusa o presidente da União das Misericórdias em entrevista ao programa “Terça à Noite” da Renascença.

Manuel Lemos diz que, apesar de 20% do novo quadro comunitário de apoio ser destinado à economia social, o sector está afastado do processo.

“Ouvi dizer que foi criada uma comissão de sábios para acompanhar o novo quadro comunitário de apoio, então e não está ninguém do sector social lá? Então o doutor Poiares Maduro quando olha para o sector social, não tem olho para olhar?”, pergunta o presidente da União das Misericórdias.

Manuel Lemos vai mais longe nas referências ao incómodo instalado entre as Misericórdias e Poiares Maduro e diz que o ministro nunca procurou as instituições sociais. “Não lhe deve interessar, nós estamos cá, existimos e não somos nós que temos que ir falar com ele, nós cooperamos com o Estado.” 

Manuel Lemos adianta: “a iniciativa pertence ao Estado e ele se quiser que venha falar connosco, não somos nós que temos que ir falar com ele [Poiares Maduro], se ele está à espera disso vai ter que esperar sentado, porque em pé vai-se cansar. Nós estamos cá há 500 anos, ele vai passar. Ele está ministro, nós somos as Misericórdias”.

Nesta entrevista ao programa “Terça à Noite” da Renascença, Manuel Lemos manifestou preocupação com o futuro da coesão social em Portugal, mas garante que as Misericórdias manterão todo o apoio à população mais carenciada.

O presidente das Misericórdias deixou ainda críticas ao ministro da Saúde pelos “incumprimentos” em matéria de cuidados continuados, embora reconheça que “Paulo Macedo tem feito um percurso que lhe dá confiança” de que o processo de devolução de hospitais às Misericórdias, que deverá iniciar-se já no final deste ano, “correrá bem”.


Governo diz que quer ouvir todos
Esta quarta-feira de manhã, o gabinete do ministro Miguel Poiares Maduro enviou um esclarecimento à Renascença, no qual afirma que o governante tem estado a receber representantes de diferentes sectores sociais, que manifestaram interesse em ser ouvidos. Acrescenta que o Governo tem previsto ouvir responsáveis das diferentes áreas de intervenção. 

"O comité de especialistas é composto apenas por especialistas nos próprios fundos e não por beneficiários das áreas de intervenção dos fundos. Há ainda bastante tempo para ouvir estes últimos, atendendo ao facto de os primeiros financiamentos apenas virem a ser dados no segundo semestre de 2014 (mesmo sendo muito mais cedo do que no quadro anterior, que demorou dois anos). Em qualquer caso, o Governo tem previsto ouvir responsáveis e agentes nas diferentes áreas de intervenção dos fundos e uma das áreas é a Economia Social, que contará com um importante reforço de verbas", lê-se no esclarecimento escrito.

"Além disso, o Governo tem vindo a receber todos os representantes de diferentes sectores sociais que manifestaram interesse em ser recebidos desde já, sendo que nunca chegou a este gabinete qualquer solicitação nesse sentido do presidente da União das Misericórdias", finaliza.


[Notícia actualizada na quarta-feira, às 9h20, com o esclarecimento do Governo]