29 mai, 2013
“É eticamente condenável e inadmissível” recusar o tratamento a alguém por motivos económicos ou de idade. O alerta é feito no programa “Terça à Noite”, da Renascença, pelo coordenador da Pastoral da Saúde, Padre Vítor Feytor Pinto.
“Isso, eticamente, é completamente condenável, é inadmissível. Em alguns lugares, diz-se que se toma essa decisão. Eu não acredito", diz Feytor Pinto, reforçando: "Dizer que se despreza uma pessoa pela idade? Eu não acredito que isso possa fazer-se”.
O coordenador da Pastoral da Saúde lembra que o desafio da medicina é, precisamente, nunca “sacrificar as pessoas que têm menos valia em termos humanos”.
Numa altura em que a crise económica afecta muitos portugueses, o padre Feytor Pinto lamenta que a maioria não tenha sabido ou podido aproveitar as isenções, por exemplo, na área da saúde: “Há um ano, havia possibilidade de quase seis milhões de pessoas recorrerem à isenção, [mas] só tinham recorrido um 1,7 milhões, porque as outras não tinham conhecimento como fazer”.
Para tentar evitar essa situação, “a Cáritas portuguesa da Igreja, de mãos dadas com a Pastoral da Saúde, lançou uma campanha que levava a que todos aqueles que tenham possibilidade de ter isenções recorram a elas”.
Na entrevista à jornalista Raquel Abecasis, o coordenador da Pastoral da Saúde reconhece que há um “desperdício imenso”. No entanto, considera que é mais difícil cortar na área da saúde “porque, em qualquer situação, a pessoa tem que estar em primeiro lugar e a pessoa doente em primeiríssimo lugar”.
Neste âmbito, Feytor Pinto lembra a todos que “o hospital para ser eficaz tem que ser um lugar de passagem, não é nunca um lugar de depósito de alguém que é ali colocado e abandonado”.
A fechar esta entrevista à Renascença, Feytor Pinto fala sobre “a falsa caridade” e explica que “uma pessoa que dá uma comidinha para sentir a consciência libertada não é cristão, está fora da perspectiva cristã”.
“Agora, atenção, quando se diz ‘é o Estado responsável’, isso é a tentação do Estado providente, que desresponsabiliza os cidadãos. Não pode haver em parte nenhuma um Estado que queira substituir a responsabilidade dos cidadãos pelo vizinho, pelo avô que está no lar. Não pode ser. Eu tenho família, tenho que assumir essa família”.
A entrevista realizou-se em Fátima onde, entre esta terça e sexta-feira, decorre o 25º Encontro Nacional da Pastoral da Saúde com o tema "A Arte de Cuidar".