Emissão Renascença | Ouvir Online

Terça à Noite

"Contestação vai agudizar-se" se Governo insistir na austeridade

01 mai, 2013 • Ana Carrilho

Carlos Silva, novo líder da UGT, diz que “basta de nos quererem hipotecar o futuro de Portugal”.

"Contestação vai agudizar-se" se Governo insistir na austeridade
Carlos Silva, da UGT, no "Terça à Noite" da Renascença, disse que se o Governo insistir em mais cortes nos salários e pensões e em despedimentos na Administração Pública vai confrontar-se com mais contestação.

Se o Governo insistir em mais cortes nos salários e pensões e em despedimentos na Administração Pública vai confrontar-se com mais contestação e põe o diálogo social em risco. O alerta é do novo secretário-geral da UGT no programa “Terça à Noite” da Renascença.

Carlos Silva, que assumiu o cargo há pouco mais de uma semana, admite que o Executivo pode ter adiado o anúncio de mais austeridade para se resguardar de maiores protestos nas manifestações do 1º de Maio. “Se o Governo se quis resguardar ou não, não sei. É uma leitura pertinente mas, mais cedo ou mais tarde, se a política do Governo passar por cortes salariais e nas pensões e se passar por despedimentos na administração pública, naturalmente que a contestação vai agudizar-se. Também quero dizer-lhe que o diálogo social estará em risco. É uma decisão do Governo, tem que fazer opções”, disse.

Por isso, a mensagem que Carlos Silva quer passar esta quarta-feira no desfile da UGT é a de os portugueses devem resistir, lutar e não se resignar. É preciso procurar soluções na Concertação Social mas também é necessário dizer “basta” às políticas de empobrecimentos dos cidadãos. “Basta de nos quererem hipotecar o futuro de Portugal, temos que dizer que não”.

Para Carlos Silva é claro que o Acordo Tripartido, assinado há um ano está desactualizado e não funcionou. O secretário-geral da UGT admite que agora seria muito difícil para a central assinar ou manter um entendimento que implique mais perdas para os trabalhadores. Despedimentos na Administração e cortes nos salários e pensões são pontos em que a central não irá ceder.

“O Governo não cumpriu a sua parte e nós estamos numa situação de não ter espaço de manobra. Que margem de manobra resta a uma central sindical que se atravessou no princípio da boa-fé, tendo em conta a defesa do superior interesse nacional, a defesa da credibilidade do país perante o exterior, quando a parte da defesa dos trabalhadores não foi cumprida? Hoje os trabalhadores não nos permitem condescender numa nova participação em qualquer que seja o agravamento das suas condições de vida, portanto: não a despedimentos na administração pública e não a cortes nos salários e nas pensões”, acrescenta. Outra matéria em que não há cedências é no aumento da idade de reforma (para os 67 anos) porque só vai gerar ainda mais desemprego.

Carlos Silva defende a concertação mas admite que os trabalhadores filiados nos sindicatos da central querem mais dinamismo, o que implica mais luta também na rua. O líder da UGT lançou o desafio a Arménio Carlos, da CGTP, para se aproximarem e encontrarem pontos de convergência.

Cavaco "contrariou" o discurso necessário nesta altura

Nesta entrevista à Renascença, Carlos Silva deixou também críticas ao Presidente da República. Considera que a situação do país exigia de Cavaco Silva um discurso mobilizador, o que não aconteceu. Ainda assim vê um ponto positivo: o apelo à “Europa para ser mais solidária”, apelo que também se aplica ao Governo.

Militante socialista, Carlos Silva afirma que Cavaco Silva não favoreceu o necessário consenso em que é preciso envolver o PS e não deixou de elogiar as propostas apresentadas por António José Seguro no congresso do partido, nomeadamente a prioridade dada à necessidade de criação de emprego.

Para o sindicalista é claro que nesta situação, se o PS fosse Governo também teria que exigir sacrifícios aos portugueses mas acredita que o faria com maior sensibilidade social.

Para Carlos Silva é hora de falar verdade. Porque os partidos que derrubaram o Governo de Sócrates e que estão agora no poder fazem exactamente o contrário do que prometeram. O secretário-geral da UGT até acredita que Paulo Portas tem muita dificuldade em aceitar algumas políticas que estão a ser adoptadas. Por isso, pede bom senso ao Governo e ao ministro das Finanças, Vitor Gaspar, que não seja mais “troikista” que a “troika”.