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"Sócrates não se resigna ao papel de peça de museu"

02 abr, 2013 • Susana Madureira Martins

Em entrevista à Renascença, o antigo ministro da Saúde Correia de Campos fala do regresso de José Sócrates e acusa o Governo de elaborar um Orçamento com "plena consciência da ilicitude".

"Sócrates não se resigna ao papel de peça de museu"
Em entrevista à Renascença, Correia de Campos, fala do regresso de José Sócrates afirmando que pensava "no Sócrates como peça de museu de história", mas afinal "veio para mostrar que é protagonista político". O eurodeputado e antigo ministro comenta ainda a moção de censura do PS e o eventual chumbo do Tribunal Constitucional ao Orçamento de Estado.

José Sócrates demonstrou que não é uma “peça de museu” e voltou para ser um “protagonista político”, afirma António Correia de Campos, em entrevista ao programa “Terça à Noite” da Renascença.

“Não me pareceu, inicialmente, que fosse o 'timing' mais ajustado, era muito cedo, mas eu estava a pensar num José Sócrates peça de um museu de História, não estava a pensar no José Sócrates como um protagonista político. Ora, Sócrates, com a entrevista, veio demonstrar que não se resigna ao papel de uma pedra histórica, quer continuar a ser um protagonista político dentro do papel limitado que ele escolheu para si próprio”, defende o antigo ministro da Saúde.

Correia de Campos não considera que José Sócrates, que vai ter um espaço de comentário político na RTP, vai ser uma pedra no sapato do líder do PS, mas antes um “coadjuvante forte, que tem outra liberdade de intervenção que António José Seguro não tem”.

José Sócrates diz que não pretende entrar na corrida à Presidência da República, mas para o  deputado socialista “não será candidato a Belém nas próximas eleições”, depois logo se verá. “A situação política dá muitas voltas. Vamos ver como José Sócrates vai ser acolhido”, sublinha.

Governo tem “consciência da ilicitude” do Orçamento
Correia de Campos acusa o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho de elaborar de forma consciente um Orçamento do Estado com “medidas inconstitucionais”, pelo segundo ano consecutivo, e de pressionar o Tribunal Constitucional de forma “inqualificável e inaceitável”.

“Acho perfeitamente inaceitável que, com plena consciência da ilicitude, o primeiro-ministro venha prosseguir nessa linha e, pior ainda, exercer agora pressão sobre os juízes do Tribunal Constitucional, dizendo: Aqui del Rei que o país está em perigo”, afirma o antigo ministro.

Se o Orçamento for chumbado, o Executivo “tem que encontrar soluções para resolver os problemas”. Se não conseguir, “deverá extrair daí as suas conclusões”, advoga.

Sobre a moção de censura ao Governo que o PS vai apresentar esta quarta-feira no Parlamento, Correia de Campos defende que surge na altura certa.

“O Governo tem dois anos de funcionamento e é absolutamente necessário, do ponto de vista democrático, interrogarmo-nos a meio de um mandato sobre onde estamos e para onde queremos ir. E a resposta a estas perguntas é devastadora: estamos pior do que estávamos e quem nos conduz, que é o Governo, não sabe para onde nos quer conduzir”, argumenta.

Nesta entrevista ao “Terça à Noite” da Renascença, o antigo ministro da Saúde mostra-se contra a extinção abrupta da ADSE. Em alternativa, Correia de Campos defende a “transformação progressiva” do sistema de saúde dos funcionários públicos numa “associação de socorros mútuos, onde o Estado contribuiu com alguma coisa” e os beneficiários “com um poucochinho mais” do que os actuais 1,5%.