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Pedro Azevedo

Humilhação do Brasil, analgésico para os portugueses...

08 jul, 2014

Uma nota prévia e obrigatória em jeito de balanço do grande escândalo deste Mundial: Nem a Alemanha é tão forte para vencer o Brasil por seis golos de diferença, nem o Brasil é tão fraco para ser humilhado por um resultado que já não se usa em fases finais.

O certo é que Belo Horizonte entra para a história do futebol mundial como palco do jogo que origina o resultado mais desnivelado de uma meia-final e a selecção brasileira sofre a mais humilhante derrota da sua existência.

A ausência de Neymar, por lesão, e Thiago Silva, por castigo, não explica uma exibição tão pobre. Desde o início do Mundial que o Brasil não convenceu um único adepto. Foi alcançando metas com vitórias sofridas e exibições pouco consistentes e a equipa nunca mostrou estofo de campeã.

A jogar em casa pela segunda vez na sua história, o Brasil tentava varrer da memória o pesadelo de 1950 e conquistar o "hexa", consolidando o estatuto de maior potência mundial do desporto rei. Contudo, o país do futebol dá com as "canastras na água", saindo vergado ao peso de uma derrota por números inimagináveis.

Num momento muito difícil de digerir e com consequências sociais de dimensão improvável, o Brasil, em 90 minutos, passa de um sonho único a um pesadelo irrecuperável. E à semelhança do que sucedera no Europeu de 2004, Scolari volta a falhar um título em casa.

O dia 8 de Julho de 2014 marca pela negativa e para sempre a história do futebol brasileiro. E confirma um novo paradigma do futebol. O romantismo, a fantasia e o virtuosismo, destronados pelo pragmatismo, rigor táctico, exaltação do colectivo, eficácia e capacidade física. Nestes capítulos do jogo, a Alemanha também goleou o Brasil.

E, já agora, pela parte que nos toca, os números da humilhação brasileira ajudam a aliviar a dor dos portugueses. Afinal de contas, o conjunto alemão, grande candidato à conquista do Mundial de 2014, acabou por ser o carrasco da selecção das quinas por uma diferença de golos inferior. Um improvável analgésico para os adeptos lusos e para o seleccionador nacional.