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Syriza. Um "susto" bom para Santana e António Vitorino

09 jan, 2015 • José Pedro Frazão

António Vitorino e Pedro Santana Lopes desdramatizam uma eventual vitória do Syriza nas próximas eleições gregas. Os comentadores do Fora da Caixa analisam o impacto europeu de uma mudança politica na Grécia.

Syriza. Um "susto" bom para Santana e António Vitorino
António Vitorino e Pedro Santana Lopes desdramatizam uma eventual vitória do Syriza nas próximas eleições gregas. Os comentadores do Fora da Caixa analisam o impacto europeu de uma mudança politica na Grécia.
O ex-primeiro-ministro Pedro Santana Lopes acredita que o Syriza, força de extrema-esquerda, pode mesmo ganhar as próximas eleições gerais na Grécia a 25 de Janeiro.

É um cenário que deve ser desdramatizado, defende. "A ideia que tenho é que irá existir alguma justa composição dos interesses em presença. Nenhuma das partes tem interesse em radicalizar posições ou em extremar posições, em romper mesmo sem controlo – ou seja, uma qualquer saída da Grécia, do euro ou de onde for", considera Santana no programa Fora da Caixa da Renascença desta sexta-feira.

O antigo PM não se assusta com o impacto desse possível resultado eleitoral. "Aliás, nunca nos deve assustar em termos democráticos. Com os sinais que tenho visto ultimamente assusta-me muito menos. Há sinais de uma evolução realista [do discurso do Syriza], independentemente da coerência das suas posições".

Por outro lado, Santana admite que a Europa precisa de abanões políticos. "É bom que a UE apanhe um susto [como uma vitória do Syriza]. E aprenda com o susto. E aprenda com as alternativas e com os pensamentos diferentes e que saem fora da doutrina oficial".

Já António Vitorino não dá por certa uma vitória do Syriza e assinala uma enorme pressão sobre a Grécia, "inadmissível e contraproducente".

O antigo comissário europeu tem dúvidas sobre a plataforma política do Syriza – "está a mudar muito" – e a sua capacidade de renegociar a dívida grega.

Uma questão mais vasta
Vitorino diz que a Grécia é uma "andorinha" numa Primavera de mudanças que tarda na Europa.

"Não tenho medo do susto. O Syriza quer pregar um susto numa base errada. A questão da dívida não é susceptível de ser resolvida singularizando-a em torno de um país. Se a perspectiva for de um problema apenas grego, não haverá solução. A questão da dívida é mais séria e mais profunda e tem a ver com a União Europeia. É uma questão europeia. Não creio que o eventual susto grego seja suficiente para provocar o ‘salto lógico’, que é reconhecer que há uma questão europeia em torno da dívida pública. O caminho é errado".

Ainda assim, diz Vitorino, "pode haver um movimento de vários países que torne mais claro que o problema é de todos, é europeu. Não será em 2015, mas essa questão vai ter que fazer o seu caminho". O antigo comissário europeu admite que a compra de dívida pública pelo BCE vai tornar evidente que "há um elefante na sala".

O antigo ministro da Defesa identifica duas grandes incógnitas. "A tensão que se vai seguir a uma vitoria de Syriza vai contagiar outros juros da divida pública de países?" questiona Vitorino para quem o Banco Central Europeu está hoje mais alertado para o seu "papel fundamental para travar o contágio". O outro risco relaciona-se com a posição de diversos governos. "O maior risco é que há na Europa do Norte quem ache que a zona euro deve ser limpa", assinalando vozes críticas na Alemanha, Holanda e Finlândia. "O precedente de sair da zona euro vai reforçar a tese de limpeza do euro", admite Vitorino.

Santana Lopes admite que "se o Syriza ganhar qualquer tipo de restruturação é inevitável”. “Eu acredito que a Alemanha prefira que a Grécia não saia. Acho que há vários sinais da tal justa composição".

O "Fora da Caixa", que pode ouvir sexta-feira a partir das 23h00, na Edição da Noite, é uma colaboração da Renascença com a Euranet Plus, rede europeia de rádios.